Era uma vez as igrejas na política…
Era uma vez uma igreja que se aventurou na política. E o resultado é...? Confere comigo nesta republicação de grande audiência.
Era uma vez uma igreja, que decidiu lançar candidatos à política. O argumento era que tais candidatos, se e quando eleitos representariam a massa evangélica. Na reunião haviam os atentos, interessados na indicação de seus nomes e apaniguados, os revoltados, que não concordavam com a guinada, e os ingênuos, que acreditavam em cada palavra, achando, inclusive, que a política é uma vocação divina. A cada citação de José, Saul ou Davi, como escolhidos divinos para cargos eletivos, eles abriam a Bíblia e conferiam. Olhavam uns para os outros e repetiam com ar de triunfo: Feliz é a nação cujo Deus é o Senhor! Os revoltados foram voto vencido. Sobraram ressentimentos, intrigas, farpas veladas, etc.
Veio a primeira eleição. Os nomes foram selecionados. Ou melhor, um nome foi escolhido para cada cargo. Como era de se esperar, veio do grupo dos atentos. O critério? Bem, era uma mescla de laço pessoal com um pastor influente, bem articulado, lábia e sorte. Selecionado para um cargo de grande envergadura na iniciativa privada, daria um vexame descomunal. Como qualquer um pode ser eleito, sob o manto da frágil interpretação da palavra democracia, indicaram-se aqueles.
Os candidatos em cada cargo foram eleitos com expressiva votação. A atuação era apagada. Perceberam bem cedo que as Câmaras Municipais e Prefeituras não são lugar para amadores. O jogo é pesado, necessita-se de braço de ferro. O conchavo quebra cláusulas pétreas. As oportunidades são muitas, mas somente os aproveitadores levam a melhor. Para brilhar no meio de tanta sujeira como salvos é quase impossível. Como só as sobras lhes restavam, faziam pouco pelo bem de todos. O miolo ia pro ralo. Sobraram ressentimentos, intrigas, farpas veladas, etc.
Quatro anos depois, com muitas feridas na alma, muitos acordos que fariam o Diabo corar de vergonha, eles retornam para nova candidatura. Houve um burburinho. Outros irmãos queriam se candidatar. Por que sim? Por que não? Estabeleceu-se um critério para o bem do exercício democrático: qualquer um, com um cartão de membro ativo, poderia ser candidato. Veio a enxurrada de candidaturas. Ninguém se elegeu, uns ficaram em boa suplência. Sobraram ressentimentos, intrigas, farpas veladas, etc.
Quatro anos depois nova eleição. O critério mudou. Qualquer um ainda pode ser candidato, mas somente os selecionados (o grupo dos espertos, oops, atentos, sempre presente…) seriam apresentados à igreja e se pediria votos para eles nos cultos. Veio a Lei, proibindo a acrobacia. Os acrobatas não se deram por vencidos. Manobraram a Lei e apresentaram os escolhidos. Uns foram eleitos outros não. Em alguns locais, aonde não houve os votos esperados, cabeças rolaram. Sobraram ressentimentos, intrigas, farpas veladas, etc.
Um grupo dentre os atentos decidiu bancar suas candidaturas por um modo diferenciado. É que os eleitores, crentes, inclusive, passaram a vender seu voto. R$ 20,00, R$ 30,00 até R$ 40,00 por unidade. Em vários casos se fez leilão. Quem dá mais? É um negócio asqueroso, mas se o povo faz, porque os crentes não fariam? A Lei proíbe a prática. Mas o que é a Lei dos homens, se a Lei de Deus já se foi há tempo? Alguns dos espertos, oops! atentos, foram eleitos. Embora muitos dos votos comprados, daqueles irmãos e irmãs, tenham traído o acordo criminoso. Participaram de um crime (a venda de voto) e ainda deram no cano. Ladrão que rouba ladrão… Sobraram ressentimentos, intrigas, farpas veladas, etc.
Por fim, tem a conta que não fecha. Dois mil votos x R$ 20,00 são R$ 40.000,00. Incluindo os votos pagos e não efetivados, temos: Quatro mil votos x R$ 20,00 = R$ 80.000,00. Sub-total: R$ 120.000,00. Mas tem os outros gastos de campanha. Resultado: Campanha básica pra vereador: R$ 400.000,00 / 48 meses de mandato = R$ 8.333,33. Se o salário é R$ 6.000,00, como recuperar o investimento? Pelo bem do povo, foi assim que começamos, lembra? os eleitos entraram nos esquemas de corrupção. Mensalão, mensalinho, jetom, emenda e toda esta série de nomes jocosos. Seus eleitores perceberam que eles não estavam lá senão para toda a barganha que caracteriza desde sempre nossa política. Sobraram ressentimentos, intrigas, farpas veladas, etc.
Alguém poderia achar que estão cansados do jogo. Que nada, já estamos em pleno primeiro tempo. As cartas estão na mesa, as peças no tabuleiro das indicações. Cada vez mais cedo vem o comichão para o próximo pleito. Sobrarão ressentimentos, intrigas, farpas veladas, etc.
Publicado, originalmente, em 09/01/2013.
Seja o primeiro a comentar!