E se nós, assembleianos, decidíssemos fazer uma avaliação como a do ENEM nos alunos de nossos cursos teológicos? Nos professores de EBD? Nos obreiros? Em nossas lideranças pastorais? Que resultados teríamos? Longe de ser apenas uma disputa pelos melhores postos, poderíamos nortear ações niveladoras ou elas não são necessárias?
Temos seminários muito fracos e outros muitos bons. Isso só mostra a falta de cuidado com o ensino teológico, num país de dimensões continentais como o Brasil. Alunos que se formam sem o mínimo de aprendizado, muitas vezes sob apadrinhamento pastoral. Em muitos casos os alunos formados são incapazes de escrever uma redação coerente. Não há indução à produção intelectual. Não escrevem artigos, são incapazes de teorizar sobre um assunto. Perdem-se em conceitos simples, etc.
Dias desses um amigo me contou que recebeu uma ligação de uma liderança intercedendo por seu pupilo para que fosse aprovado. Mas o que choca foram os termos utilizados: “Olhe lá, rapaz, eu acho que você tem juízo pra não reprovar Fulano de Tal!”. O tal Fulano era ausente, faltava até mesmo nas provas e tinha lacunas imensas em seu histórico, segundo o amigo professor. Mas a liderança queria porque queria que ele tivesse um diploma de teologia!
Outro problema gravíssimo é que alunos se formam sem estarem afeitos aos trabalhos eclesiásticos mais comezinhos de suas congregações. Daí não querem ir à EBD, porque sabem mais que o professor, não querem ir à doutrina, porque sabem mais que o pastor. Uma lástima total!
Anos atrás sugerimos que a CGADB encampasse uma certificação nacional para os seminários confessionais assembleianos, mas propostas assim parecem não encontrar muito eco, pois trarão atritos, ainda que pra melhorar. Uma providência necessária é que efetivamente se aplicassem princípios sérios para a aprovação de uma entidade. Infelizmente, vamos fazendo as coisas sem preocupação com a qualidade educacional ou teológica.
Claro que teríamos uma barreira imensa a ser vencida. É que somos avessos a qualquer tipo de avaliação. Queira fazer um simples questionário em sua EBD e você verá a resistência de muitos! Mas isso só adia a solução de nossos problemas. Temos pastores e professores de EBD que nunca leram a Bíblia toda. Muitos perpetuam ideias ultrapassadas sobre o livro básico de nossa fé, ouvidas em eventos de gosto duvidável. Boa parte não tem biblioteca, não lê livros teológicos de qualidade, não consegue conceituar uma simples doutrina, não consegue diferenciar doutrina de costume e por aí vai.
A Assembleia de Deus passou décadas demonizando o ensino teológico a ponto de precisarmos importar teologia! Boa parte dos livros da CPAD são de autores estrangeiros. Pastores e líderes tem verdadeira alergia à produção intelectual e muitos de nós NUNCA pensou em lançar um livro! Quem já esteve em sala de aula de algum seminário sabe disso. Somos, infelizmente, parte do problema e não da solução.
Um efeito colateral muito bem vindo seria tabular onde há precariedade, em que cidades, que regiões, há mais carência de ensino teológico. Desde que as provas fossem feitas com lisura e responsabilidade, os resultados seriam excelentes ferramentas para nortear ações para enfrentar o problema.
Como parte do esforço para o aprimoramento intelectual de seus membros, muitos dos quais analfabetos ou analfabetos funcionais, a AD bem que poderia a partir da EBD trabalhar em cima de materiais (especialmente, História e Português) que ajudassem a minorar o problema da educação brasileira como um todo. Já existem pesquisas sobre a influência da Bíblia na leitura. Era aproveitar a oportunidade e “matar” dois coelhos com uma cajadada só!
Mas quem se habilita? As lideranças iriam participar? Os resultados seriam encarados com seriedade? Aguardando aqui!