Prezados 180 leitores, obrigado por suas visitas. Elas tem aumentado mês a mês. Vamos a um tema caro em meio à aprovação da Confissão de Fé assembleiana que, se não é explícita, ao menos procura demonstrar o quanto somos arminianos. Ué? Mas não estávamos falando de Calvinismo na Assembleia de Deus? Claro, claro. Vamos com calma…
O que Calvinismo?
De forma a mais sucinta é um sistema de crenças que prega, entre outras coisas:
- A salvação para os eleitos. E somente para eles!
- Que se você é um eleito, de alguma forma, algum dia, a salvação irá te alcançar;
- Que você não deve se preocupar se for um eleito e ainda não está na Igreja. Como você é incapaz de atentar para isto, você será tocado mais adiante.
E onde o Calvinismo está entranhado (se diz por aqui de algo latente) na AD? Vou dar um exemplo simples e outro mais sofisticado. Converso com irmã Fulana. É uma crente de muitas décadas. Já viu muitas cenas e testemunhou muitas histórias. Em dado instante ela ergue a sobrancelha e diz:
“Vamos orar por Sicrano. É o filho de Beltrano. Nasceu no Evangelho, está no caminho das drogas…”
“Oremos“, respondo em solidariedade.
“Se ele for filho da promessa…”
Oops! Como assim? Filho da promessa!? Não sei onde nasceu a expressão, mas filho da promessa se refere a alguém que pode andar por qualquer estrada tortuosa, fazer as maiores barbaridades. Sendo filho da promessa um dia essa pessoa irá se arrepender dos seus caminhos e encontrar a Cristo. Ponto final.
Difere da visão calvinista? Acho que não. É só uma versão popular para a eleição incondicional do… Calvinismo.
E o outro exemplo de Calvinismo na AD?
O outro exemplo é a chamada ministerial. Se somos arminianos, isto implica dizer que todos estão incluídos na salvação universal. Só precisam atentar para o chamado divino para a salvação. Até aí concordamos. Concordamos também que Deus pode chamar qualquer um ao ministério.
Quando nem se falava em inclusão, racismo e outros temas moderninhos a AD brasileira já tinha negros e pobres no alto escalão. Nunca houve barreiras pela condição social (pode ter até facilidade para os bem fornidos, o que é outra história), cor, raça ou origem. Aliás, é um nordestino que preside a CGADB há cerca de 30 anos, em São Paulo (sede de seu ministério) e Rio de Janeiro (sede da entidade).
Onde se manifesta o Calvinismo, então? Na percepção de que o chamado pode fazer qualquer coisa que não perde a chamada. Isso! Você só vai ouvir de uma elevada liderança que perdeu a chamada, se esse cidadão realmente fez coisas muito chocantes. Coisas pequenas como desvios financeiros, comprometimento ético, adultério e comportamentos semelhantes não comprometeriam a chamada ministerial!
Sim, é incrível como somos arminianos na soteriologia e calvinistas na chamada ministerial. Já a Bíblia ensina o contrário. Ensina que Deus rejeitou Saul, um homem chamado por ele (I Samuel 16:1). Que Judas foi escolhido pelo próprio Jesus, mas perdeu sua chamada de olho em… dinheiro (Mateus 27:5, Atos 1:18)! Que Paulo perdeu um de seus liderados para as coisas do mundo, o nome dele era Demas (2 Timóteo 4:10). Antes havia entregue dois colaboradores desviados a Satanás (1 Timóteo 1:20). E por aí vai…
Em suma, a Bíblia ensina que há responsabilidade do chamado ao ministério com sua chamada ministerial. Pequenos e grandes pecados fazem alguém perder sua chamada, ainda que fique em seu trono. A legitimidade da chamada ministerial não se dá quando alguém governa ou quantos anos passa nesta atividade. Há, por exemplo, inúmeros reis maus e longevos na teocracia de Israel. É o caso de Manassés com seus 55 anos de governo.
A chamada é algo em construção que vai se efetivando à medida em que a liderança se submete a Deus e conquista o respeito do seu povo. Do início ao fim. Há, sim, líderes que começam muito bem e terminam muito mal.
Ou teríamos um Calvinismo Ministerial?