Hoje é 15/12, nesse dia, no ano de 1993, foi lançado aquela que seria a obra prima do diretor Steven Spielberg: A lista de Schindler. A produção é baseada em uma história verídica de um empresário alemão que salva a vida de mais de mil judeus poloneses durante o Holocausto, na 2ª Guerra Mundial.
A bilheteria foi estrondosa. O filme foi indicado a 12 Oscars e levou para casa sete estatuetas, incluindo Melhor Filme e Melhor Diretor. Conheço pessoas que já o assistiram três, cinco ou mais vezes. Um amigo me disse que passou uma semana para se recompor das cenas chocantes, que remetem os telespectadores a um passado não tão distante.
Dentre as muitas referências do blockbuster, chama-me a atenção a cena abaixo. Retomo a seguir (não fiquem preocupados, vou traduzir)…
– O cruel comandante Amon Goeth, responsável pela extermínio do gueto da Cracovia, na Polônia, onde milhares de judeus foram massacrados. Os remanescentes foram levados para o campo de concentração de Plaszow. É neste campo que se dá o episódio desta parte do filme;
– A engenheira judia Diana Reiter, que cometeu quatro crimes: 1) Ser judia; 2) Ser formada em engenharia em Milão; 3) Estar no campo de concentração citado e 4) Alertar para os erros de fundação que comprometeriam a construção;
– O sargento Hujar, subserviente executor das ordens do comandante. Talvez, por não ter outra opção…
A cena começa com a engenheira alertando por problemas na construção. As fundações estariam comprometidas. Ela alerta a Hujar que a trata através de pornografias. Trazida perante o comandante, segue-se um tenso diálogo:
– Você é engenheira?
– Sim. Meu nome é Diana Reiter, formada em Engenharia Civil na Universidade de Milão.
– Ah! Uma judia educada, como Karl Marx…
– Sargento! – Diz Amon chamando Hujar num canto.
– Sim, senhor.
– Atire nela!
– O quê?
– Comandante, – questiona Diana – estou apenas tentando fazer o meu trabalho.
– E eu o meu! – retruca Amon.
– Senhor – objeta Hujar – ela é a capataz/mestre de obras da obra.
– Nós não queremos saber dos argumentos desse pessoal.
– Ok – Diz Hujar.
Vai levando-a para a morte num local afastado de onde estão, quando o comandante interrompe:
– Não! Atire nela aqui, sob minha autoridade.
Hujar a subjuga e puxa sua arma.
– Será preciso que façam mais do que isso… – murmura Diana de joelhos para seu executor.
– Ok. Você está certa – retruca Hujar, que, em seguida, puxa o gatilho.
De saída, o comandante recomenda:
– Destrua e refaça exatamente como ela disse!
É um roteiro conhecido. Eu já experimentei na vida muitas vezes situações semelhantes. Lembro de um chefe de departamento pessoal, com o qual trabalhei, que tinha prazer em ouvir as sugestões de outrem, para dizer aos superiores que foi ele quem teve a ideia. É uma postura triste.
Em outra empresa na qual trabalhei fiz várias recomendações por escrito, tão óbvias e cristalinas que você se pergunta: Por que ninguém teve essa ideia antes? Logo depois fui demitido por meu chefe. Vinte anos depois o encontrei. Ele, todo sorridente, perguntou: “E aí? Tudo tranquilo? Está trabalhando com que?” Calmamente, como compete aos salvos, mesmo prejudicados, expliquei rapidamente como Deus tinha cuidado de mim. Ele retrucou: “Eu sabia que você tinha potencial!”. É brincadeira?
Outro sentimento mesquinho é não ouvir uma sugestão somente para não ser rebaixado diante dos demais. É viável, é plausível, é lógica, é razoável, mas não foi dada por aquela “pessoa”, ou pela pessoa que catalisa um carga de sentimentos negativos a partir da liderança. Pronto. Não vale! Não serve! Não funciona! Aí se mata, eufemisticamente, o autor, para depois fazer exatamente como ele disse.
Eu tinha 17 anos e já era professor da EBD, quando fui ajudar um orgão chamado aqui de CRACEADALPE, que se ocupa de visitar e pregar para afastados do Evangelho. No aniversário propus o primeiro convite com a hoje disseminada programação em grade:
Lembro como se fosse hoje, o pastor da congregação à época, pegou, olhou e começou a riscar indiscriminadamente a folha: Está errado, está errado, está errado. Mas onde está o erro? Eram só monossílabos ininteligíveis já que não tinha argumentos. Hoje praticamente todo mundo conhece a diagramação. Aliás, é a primeira vez que revelo esse acontecimento.
Que estejamos atentos a situações semelhantes. Sempre ouvindo, como compete a bons líderes. Mas também percebendo as boas sugestões e colocando-as em prática. Especialmente aquelas que são para o bem de todos.
E dando o crédito devido, como bons despenseiros da graça de Deus. Sem nenhum ataque de estrelismo ou megalomania. Quantas Dianas não morreram hoje, Brasil afora?