É uma história da viúva em 2 Reis 4 é perene e tocante. Desejamos salientar para nossos leitores alguns aspectos importantes deste maravilhoso relato, já que não tivemos tempo de escrever um subsídio anteriormente. Vamos lá!?
1) Haviam escolas de profetas em Israel
Há indicações de que escolas de profetas tenham funcionado em Gibeá, Gilgal, Ramá, Betel e Jericó. Eram instituições de mentoria, treinamento, despertamento e identificação de talentos. A nata dos professores geria e ensinava em tais lugares. Com razoável probabilidade gravitavam ao redor de escribas e especialistas da Lei. Sobretudo, porém, eram lugares de demonstração prática.
Não, não, eram nenhuma Hogwarts, aonde os Harry Potters de Israel aprendiam mágica. Aprendiam a servir a Deus! Ser profeta não era essa vida de oba oba que ouvimos e lemos hoje em dia. Esse negócio de profetizar para os irmãos nos bancos não casa com a vida diária dos tempos bíblicos. Relembremos que 100 profetas foram sustentados a pão e água (pode ser apenas uma expressão idiomática) por Obadias, quando Acabe perseguia os verdadeiros profetas (I Reis 18:4,13)
2) Não confundir profeta com sacerdote!
Quatro distintas funções nortearam o povo de Israel ao longo do Velho Testamento: Juízes, reis, sacerdotes e profetas. Ocasionalmente um sacerdote também era profeta e juiz. É o caso de Eli. Os profetas podiam vir de qualquer das doze tribos de Israel. Os sacerdotes somente da tribo de Levi. Exceção para Melquisedeque e Cristo. Os juízes governavam nos primórdios, quando o povo saiu do Egito para entrar em Canaã. Os reis os sucederam. Um rei não podia oficiar no templo.
3) Esta viúva era esposa de um dos filhos dos profetas
Ao contrário dos padres católicos, os profetas podiam casar. Encontramos os profetas trabalhando duro (2 Reis 6). Quem sabe em alguma dessas atividades mais pesadas faleceu o marido daquela mulher, deixando-lhe dívidas e dois filhos para cuidar. Uma viúva não tinha muita opção uma vez que não era costume das mulheres trabalhar naquele tempo. Restava-lhe o amparo da família e dos amigos, até que pudesse ser remida pelos irmãos do falecido (Levítico 25).
4) Uma viúva só podia casar com os irmãos do falecido marido
Uma vez morto o marido, se agradasse a um dos irmãos dele, ele deveria desposá-la. Ela não deveria casar fora da família. Talvez esta mulher não fosse tão jovem ou bonita a ponto de algum parente querer fazer isso ou, simplesmente, não havia parentes por perto. A realidade dela é que só restaria a mendicância ou a escravidão.
5) Os filhos poderiam ser tomados como escravos
Os filhos poderiam ser dados em lugar de uma dívida. E até uma pessoa qualquer poderia se oferecer como escravo até pagar o que devia (Levítico 25:47-49). No ano do jubileu, porém, deveria ser liberto obrigatoriamente. Para nós soa estranho, mas muitas vezes o texto bíblico não interfere nos costumes, senão de forma tangencial. É o caso do dote, disseminado em todo Oriente, que nunca foi proibido nem regulamentado no Velho Testamento.
6) A mulher procurou o homem certo: um profeta de Deus!
Note que ela não estava em busca de uma profecia ou apenas de oração. Estas coisas são importantes, mas muitas vezes é necessário agir. Se Eliseu orasse por ela e a despedisse não estaria fazendo diferente do que diz Tiago: Se um irmão ou irmã estiver necessitando de roupas e do alimento de cada dia e um de vocês lhe disser: “Vá em paz, aqueça-se e alimente-se até satisfazer-se”, sem porém lhe dar nada, de que adianta isso? (Tiago 2:15,16)
Por vezes, a Igreja não consegue satisfazer pequenas demandas sociais entre seus próprios membros porque está cega para a realidade deles. O homem certo não é aquele que estigmatiza uma situação, que faz publicidade de uma ajuda, mas aquele que norteia o necessitado! Quantos orfãos e viúvas ficam à mercê da própria sorte enquanto pastores vivem nababescamente? É fácil se alhear, mas será que não prestaremos contas por nossa omissão?
7) Que ela pensava que não tinha nada, mas tinha o que era necessário
Há um ditado popular que diz: O pouco com Deus é muito. Isso é mais que verdade. Deus precisa somente do que temos para fazer um milagre. Sempre temos um talento, uma habilidade, alguma coisa. Só precisamos lembrar. Num primeiro momento ela exclama: “Tua serva não tem nada em casa”, para só em seguida acrescentar: “senão uma botija de azeite”
8) Parece que a crise não era generalizada
Note que havia o credor, supostamente gente com dinheiro para emprestar (em Israel era proibida apenas a usura), e os compradores. Azeite parece ser um produto caro desde sempre. Mas tanto a viúva vendeu seu estoque depois do milagre, o suficiente para pagar suas dívidas, quanto guardou para as necessidades futuras, até que pudesse sobreviver com outra fonte de renda.
9) Obediência foi a palavra chave para o milagre acontecer
Não se tratava apenas de sobrevivência. Soava inverossímil o que o profeta aconselhava à mulher. Nunca antes algo semelhante havia acontecido. Mas a mulher obedeceu. Podemos imaginá-la pedindo emprestados vasos aos vizinhos, não poucos, como diz o texto, e depois fechando as portas e derramando azeite neles. E enquanto fazia isso o azeite da botija original não se acabava. E se ela não tivesse obedecido? Se tivesse desprezado as instruções do profeta?
Ela retorna ao profeta e pergunta o que fazer com tanto azeite? Novamente é orientada, só que desta veza vender e viver do excedente. Ela vai e é bem sucedida crendo em obediência!
10) Uma mulher que podia pedir emprestado aos vizinhos
Imaginemos uma mulher que mal falava com seus vizinhos. Que fazia questão de não responder aos acenos das pessoas próximas, ranzinza, mau caráter. Numa hora dessas, de necessidade, teria enorme dificuldade de pedir vasos emprestados. Sob que justificativa? Com que finalidade? Os vasos possuíam três qualidades: Emprestados, vazios, muitos!
Conclusão
Como vimos, são lições maravilhosas para todos nós. Que possamos aprender com aquela mulher.