Deveríamos votar em Dilma por gratidão?
Prezados dez leitores, estamos às vésperas de uma eleição. Uma coisa me incomoda nos argumentos que dizem os presidenciáveis, especialmente os petistas: deveríamos votar neles por gratidão. Ora, votar é um dever, determinado pela Constituição Federal e ampliado pela legislação pertinente. Claro, claro, que numa democracia ideal votaria quem quisesse. Mas ainda estamos aprendendo… Mas, votar por gratidão!?
A gratidão é um dos sentimentos humanos mais nobres. Não creio que se aplique aqui o raciocínio. Primeiro, os governos existem para, entre outras coisas, administrar nossos impostos, revertendo em investimento para o bem de todos. E devem fazê-lo por obrigação e com a máxima transparência, afinal o dinheiro não é deles. E são as pessoas que elegemos que se oferecem para fazer isso. Ninguém se candidata por obrigação!
Os senhores de engenho mantinham seus escravos, lhes davam roupas, alimento, dormida. E achavam que eles lhe deveriam ser gratos pois estariam numa situação muito pior sem seu amparo. Quando um escravo era comprado, deveria, segundo o raciocínio, agradecer por não ter de ficar mais tempo naquela vitrine horripilante. É uma sensação que não conseguimos superar.
Em segundo lugar, as notícias dão conta de inúmeros desvios. Bilhões e bilhões de reais foram desviados para o bolso de larápios e espertalhões. Em que deveríamos ser gratos a Dilma? Por ela ter permitido a roubalheira? Ora, vamos! Este apelo parece muito mais sentimentalismo piegas do que compreensão do que é uma eleição. Parece aquele prefeito que emprega parentes para que ninguém diga que deixou os seus na mão.
Terceiro, os cargos de presidente, deputado e senador são mantidos com as maiores regalias e prerrogativas. Esse pessoal flana acima de toda miséria, não raro acima de todas as leis. E ainda temos de ser gratos por fazerem alguma coisa pelo povo em geral no tempo livre? Eles é que deveriam nos agradecer de joelhos a boquinha que lhes damos.
É inegável o trabalho de Dilma e os progressos do País. Assim como é inegável que muito mais deveria ser feito. Imaginem se aquele dinheiro desviado dos diversos escândalos noticiados fosse aplicado nas necessidades do Brasil!? Como não estaríamos mais adiante. Daí a votar por obrigação de sermos gratos, paciência!
Dia desses um pastor amigo, uma pessoa mais ou menos esclarecida, me disse que se não votamos em determinado prefeito, não podemos cobrar depois de eleito melhorias para nosso bairro, por exemplo. Que é que é isso? Uma vez eleito é o prefeito de TODOS os munícipes, tenham votado nele ou não! Mas é justamente essa a percepção de muitas outras pessoas e dos próprios políticos. Reinaldo Azevedo informou em seu blog que Haddad, em São Paulo, aumentou o IPTU com percentual maior nos bairros aonde foi menos votado. É um absurdo!
Talvez nunca superemos a barreira que nos separa dos países verdadeiramente desenvolvidos. Leia aqui como vivem os políticos suecos, por exemplo, e a percepção que o povo em geral tem dos seus representantes naquele subdesenvolvido País.
Devemos votar tendo em vista melhorias e projetos para o país. Numa eleição polarizada como a nossa, e de forte propaganda contra ou a favor dos candidatos, o que resta é escolher o “menos pior”. Nossa democracia é frágil do ponto de vista da formação de eleitores críticos. Mas um é o processo do qual temos que participar e cobrar.