A Bíblia é um grande instrumento musical onde Deus executa uma partitura. Dentro dos acordes há a cacofonia das nossas vozes, as música cantadas, os louvores, a adoração e toda expressão musical digna do nome. Sim, Deus gosta de música. E desde já não devemos restringi-lo ao nosso gosto, nosso espectro. Deus tem um largo leque de possibilidades, de tal forma que aquilo que para mim não tem importância, aquele tic-tac nervoso de um grilo perdido numa floresta tropical, para Ele é importante!
Mas a minha referência neste breve post não é tanto à música propriamente dita, mas ao grande ensaio da vida cristã. Sim estamos ensaiando, numa hora o ritmo é crescente, estamos galgando degraus e conquistando nossos sonhos, noutra hora a melodia é morna e modorrenta, estamos vivendo nossas crises. Numa hora a música nos encontra receptivos, noutra a ignoramos. Somos afeitos a escolher ritmos, instrumentos e até pendemos por determinadas letras.
Há quem não saiba que a Bíblia toda foi escrita para ser cantada. Esta regra se aplica ao menos ao Antigo Testamento, pois o hebraico se presta à funcionalidade. Tanto é letra, no sentido do texto, como nota, no sentido da partitura. De modo que não apenas os Salmos são cantados em Israel, mas todos os demais textos. A diferença é de ênfase. Evidentemente, o desconhecimento das línguas originais não ajuda. A poesia hebraica é diferente da nossa. Não há preocupação com a rima fonética. O que rima por lá são as ideias. Com o grego não é muito diferente, que vejamos a incrível melodia de Romanos 11:34ss!
Abaixo, Gênesis 1, com alguns de seus versículos cantado em hebraico…
Deus já cantou sozinho. Jó intrigou-se com esta revelação. Era a música da criação, quando os anjos surgiam e já se regojizavam com as maravilhas do Universo. Ele cantou, em seguida, com eles (Jó 38:7). O Criador se alegra com os louvores de Israel (Salmos 22:3). Por lá, a música era executada de modo tão profundo que instigava profetas (II Reis 3:15-20). Era parte essencial do culto, no qual pouca ou nenhuma pregação havia.
Deus cantou alegremente quando seu filho nasceu (Lucas 2:14). Mas sua partitura também contém silêncio. O selá está espalhado por todo o Salmos. Não é o silêncio da indecisão, mas da reflexão! E não há só silêncio, tem choro também. Deus chorou na música. Os tristes acordes desta parte da partitura soaram no canto fúnebre do Filho morto, que se tornaram novamente alegria na ressurreição.
Aliás, haverá música na ressurreição dos mortos. A trombeta soará, sem sonido incerto. É o som novo penetrável a mares e sepulturas das quais corpos ressurretos e reintegrados surgirão! Este ato se completa na entrada no Céu: tantos como a areia da praia! Quem não lembra? O brado é de louvor: “Ô, aleluia! Eles chegaram!”.
Fico por aqui com uma dúvida: Como se ouve música no Céu sem tímpano? Sem cérebro para ecoar as notas? Certamente é música do mais alto nível.