Thalles Roberto lançou sua Bíblia de Estudo. Eis que tudo se fez luz. Só que não, como se diz em internetês quando uma coisa é o contrário da outra. Não sabia, mas fui informado nas redes sociais. Já fiz várias críticas ao lançamento de tais Bíblias. As relembro aqui:
1) Não aguçam a pesquisa. Por mais que as editoras evangélicas em geral se esforcem, o estudante, o pastor, o teólogo comum no Brasil tem preguiça para a pesquisa. Fui seminarista e senti na pele tal aversão. Não critico meus amigos, mas eles sabem que pesquisa cabeça não era seu forte. De forma generalizada, o que o aluno de teologia gosta é de confronto e polêmica. Razão pela qual há tão pouco material de exegese gestado em nossas terras. O assunto mais comentado por um estudante de seminário é o arrebatamento. Ele gosta de detalhar etapas, etc e tal.
Boa parte dos compradores fazem pesquisas pontuais, sobre temas generalíssimos, tão logo os versículos são citados numa leitura oficial, por exemplo. Fora isso, a apatia é um mal comum. Conheço menos de dez pastores que gestam um sermão com razoável antecedência, a grande maioria recebe na hora, apesar de ensinar o contrário. Curiosamente, conheço vários grandes pregadores e expositores que possuem uma Bíblia simples toda marcada e anotada de próprio punho.
Os seminários têm sua parcela de culpa. Há pouco incentivo à pesquisa e à publicação da produção intelectual. Boa parte dos pesquisadores que aparecem nos seminários já o eram desde há muito;
2) Não aguçam a leitura. Não conheço uma só pessoa, me perdoem se generalizo, que tenha se tornado um leitor mais
ávido, após a compra de tais Bíblias. Os que gostam de ler, já o faziam antes. Se ter uma Bíblia não serve à leitura e meditação, então risquemos de suas páginas passagens como o Salmo 1! Relembro aqui uma história que aconteceu comigo. Chegando ao gabinete de determinado pastor, numa sexta-feira, este me mostrou, orgulhoso, seu plantel de Bíblias de estudo. Era BEP, Scofield, Thompson, Vida Nova e por aí vai. Como sou perspicaz e tenho uma amizade de longa data, perguntei, brincando:
– Destas Bíblias que o senhor tem, quais foram lidas esta semana?
Ele respondeu, honestamente:
– Nenhuma, rapaz. Infelizmente…
Retruquei:
– Então, era melhor ter um Novo Testamento, daqueles dos Gideões, desde que lido com frequência!
Acreditem, há pastores que nunca leram a Bíblia toda! Apesar de terem e exibirem Bíblias as mais diversas.
3) Não aguçam a espiritualidade. Esta é uma triste constatação, não conheço ninguém que tenha se tornado mais profundo, espiritualmente falando, estudando em tais Bíblias. Se uma Bíblia oferece mais recursos, audiovisuais, inclusive, reza a tese que o aluno deveria estar mais instruído, e, por consequência, mais culto, e daí mais crente. Se uma Bíblia não transforma, que valor tem? As pessoas ficam me olhando ressabiadas quando pedem uma indicação de Bíblia de Estudo. Perguntam-me qual a melhor? Respondo: A que você lê! Procure uma boa Teologia Sistemática, que vai oferecer recursos suficientes para compreensão panorâmica das Escrituras Sagradas.
Depois eu sou um crítico desalmado…