Antes de prosseguir vamos à origem dos termos direita e esquerda na política. A história nos ensina que os termos nasceram na Revolução Francesa, no final do século XVIII. Haviam dois grandes grupos no plenário parlamentar daquele país. À direita ficavam os defensores da burguesia e do status quo, à esquerda os defensores do povo e das conquistas sociais. No centro ficavam aqueles que não tinha posição política definida, defendendo este ou aquele posicionamento ao sabor da conveniência. A esquerda defendia o progresso das conquistas, o tabelamento de preços, a abolição da escravidão nas colônias francesas e a admissão do cidadão às decisões em todas suas instâncias.
Os sistemas políticos mundiais herdaram a nomenclatura, mas no caso do Brasil há diferenças gritantes. A esquerda brasileira é notadamente burocrática, oriunda em sua maioria de sindicatos e do funcionalismo público. Nestes termos defendem rigidamente todas as conquistas salariais e pecuniárias dos grupos que representam. O povo que lhes paga é, não raro, alvo de mal humor e desdém nos guichês de atendimento de repartições públicas. Uma das bandeiras caras aos esquerdismo brasileiro: a estabilidade funcional, é utilizada em muitos casos para a malemolência e falta de produtividade.
Quando o golpe de 1964 estabeleceu o governo militar os partidos de esquerda foram postos na clandestinidade, seus líderes foram presos ou exilados. Os que resistiram foram mortos. Porém, a maioria mortos em combate. Diversos, porém, poucos em relação à quantidade de envolvidos morreram na tortura. Frise-se que não era democracia o que queriam os grupos radicais que lutaram contra os militares, mas uma versão tupiniquim do comunismo soviético. Portanto, nada daquilo era bom para o povo, como podemos ver ainda hoje em Cuba ou China. Repressão ao livre direito de ir e vir, existência de um partido único, não teríamos, por óbvio, oposição, e ausência de iniciativa privada.
Após a redemocratização nos anos 80 e a posterior ocorrência de eleições diretas os partidos ressurgiram, se fundiram, novos foram criados. Em 2002 o poder passou a um daqueles que era tido como um partido de esquerda, o PT. Aliás, até hoje permanece tal ideário. As sucessivas denúncias de corrupção, penalizando, portanto, o trabalhador, o assalariado, os mais pobres, fizeram cair a máscara da esquerda brasileira. Os líderes se locupletaram e enriqueceram, muitos são milionários. O partido que se dizia dos trabalhadores passou a aceitar patrões em seus quadros e fazer conchavos com eles.
Outros partidos ditos de esquerda seguiram o mesmo caminho, embora sem eleger um representante presidencial, é o caso do PSB, do PV, do PDT, do PSOL.
Mas a pergunta chave aqui é um crente salvo pode ser esquerdista? Relembremos algumas premissas caras aos partidos de esquerda, em sua maioria:
- Controle do Estado – Todas as atividades seriam impulsionadas pelo Estado, mesmo naquilo que não é atribuição direta. O problema é que o Estado gere mal e tende a politizar as indicações. Além de desviar dinheiro do Tesouro para empresas públicas mal geridas;
- Repúdio ao capitalismo – A iniciativa privada é menosprezada, os EUA, que representam o consumismo por excelência, devem ser criticados nos estertores. É o grande Satã. Porém, 10 em cada 10 esquerdistas adoram o Big Mac e gostariam de passar férias na DisneyWorld, além de consumir todos os gadgets (quinquilharias tecnológicas) produzidos ou inventados naquele País;
- Democratização da mídia – Entenda-se como um ataque a todos os veículos de comunicação que representariam a manipulação da opinião pública. O Estado se encarregaria de produzir conteúdo e decidir o que os cidadãos assistiriam. A grande questão aqui é a crítica livre. O Estado aparelhado pela esquerda entende que a grande mídia só deve exaltar os pontos positivos da administração pública;
- Aumento da burocracia – Inchaço da folha de pagamento estatal, contratação crescente de funcionários públicos. A esquerda entende que a privatização dos serviços públicos é que gera a má qualidade da prestação dos mesmos. Porém, nenhum teórico de esquerda sério é capaz de explicar como sendo o Estado um mero arrecadador dará conta indefinidamente do funcionamento da máquina;
- Financiamento do transporte público pelo Estado – Todas as empresas de ônibus seriam estatizadas. Este foi um tema caro nos protestos recentes. Ninguém se ateve à conta que governos municipais e estaduais terão que pagar para que o transporte coletivo seja gratuito. Sem falar naqueles que podem pagar. Aliás, a esquerda sempre quis a estatização de todos os serviços, só não diz como vão ser pagos;
- Reforma política – Extinção do financiamento privado de campanhas e partidos. O Estado financiaria dando proporcionalidade ao tamanho das bancadas. É desnecessário analisar quais partidos seriam beneficiados com os recursos;
- Relaxamento moral – Um dos conceitos utilizados à exaustão é a repressão religiosa fomentada pelas igrejas. Como a esquerda tende ao ateísmo vê o relaxamento dos costumes como favorável ao seu propósito de desmerecer as igrejas;
- Combate à homofobia e ao racismo – Segundo os teóricos de esquerda temos mortes por racismo e homofobia no Brasil de maneira sistemática e assustadora. As estatísticas tem se mostrado fraudulentas e a violência é endêmica;
- Direito ao aborto – O mantra das esquerdas é que o feto não faz parte do corpo da mulher, embora dela dependa. Portanto, a mulher decide o que fazer com seu corpo. Entretanto, todos que defendem o aborto nasceram e estão vivos. Curiosamente, a esquerda tem um viés conservacionista. Traduzo, um ovo de tartaruga, potencial filhote se e quando eclodir tem mais valor que um feto?
- Desmilitarização das polícias – Elas seriam meros fiscais do crime não podendo agir de forma ostensiva, mesmo quando atacados. Sem a reserva técnica de segurança como estaria o País?
- Controle da religião – Assim como ocorre em Cuba e na China o partido não pode dividir influência com outra entidade, sob pena de subverter as massas e dar margem a questionamentos.
Não gostaria de chegar a uma conclusão. Ainda que a esquerda esteja desfigurada no Brasil, todos os dias vemos e lemos este questionamento na grande mídia e até muitos partidos mais conhecidos mantêm em seus programas, estatutos e atas alguns ou todos temas acima. Agora mesmo a eleição tem sido pautada por alguns desses temas e se exige dos candidatos um posicionamento a respeito deles.