Contestando Renato Vargens ou Por que faço apelo para aceitar a Cristo?
Prezados vinte leitores, o Pr. Renato Vargens republica em seu Facebook, ontem, uma chamada para artigo em seu blog cujo título é Três motivos básicos porque não faço apelo para salvação. Decidi contestar seus argumentos. Antes, porém, ressalto que nada tenho de pessoal contra o nobre amado. Aqui usamos a máxima de autoria desconhecida: “Grandes mentes debatem sobre ideias, mentes medianas debatem sobre eventos, mentes pequenas debatem sobre pessoas”. Por outro lado, cremos que toda assertiva é passível de debate. Vou com ele em azul e eu em vermelho.
De forma efetiva os apelos para “aceitar” Jesus deram início no século XIX com Charles Finney.
Por simples dedução e inferência, como veremos a seguir, cremos que desde a Igreja Primitiva os propagadores do Evangelho fazem convites. Se a prática foi resgatada por Finney… O judaísmo exclusivista é que evitava o proselitismo. Como, aliás, se comporta ainda hoje.
O apelo religioso é a prática de convidar o ouvinte de uma mensagem evangélica, a tomar uma decisão de aceitar Cristo como seu Salvador. Normalmente, o apelo é dado depois de uma pregação ou campanha evangelística, num clima emotivo, onde canções em tom menor são entoadas com vistas a sensibilizar o pecador. Em momentos como esses o ouvinte é convidado a responder sim ou não a “oferta ” de salvação por parte do pregador.
Esses predicados todos servem apenas ao pretexto que virá a seguir… As Assembleias de Deus aqui no Nordeste, por exemplo, evangelizam de porta em porta, convidando cada pessoa a tomar uma decisão por Cristo, com uma mensagem direta e objetiva.
Outra coisa, por que não usar hinos temáticos para tocar o pecador? Compositores estariam proibidos de “sensibilizar” o ouvinte? Ouçamos Paulo (grifos meus): “Fiz-me como fraco para os fracos, para ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, para por todos os meios chegar a salvar alguns. E eu faço isto por causa do evangelho, para ser também participante dele”. (I Corintios 9:22-23).
Caro leitor, eu não acredito em apelos para salvação. Permita-me explicar porque:
1-) A prática do Apelo afronta a incapacidade do homem de ir a Deus.
A doutrina da depravação total é inequívoca. Efésios 2.1 nos ensina que o homem está “morto em seus delitos e pecados”. Isto é, um homem morto espiritualmente não possui a capacidade de ir a Deus ou até manifestar desejo por Deus, a não ser que este o queira e o convença mediante o Espírito Santo do pecado do juízo e da justiça. Além disso, as Escrituras também ensinam que “Ninguém pode ir a Cristo se o Pai, não o enviar.” Em outras palavras isso significa que nenhum homem pode ou tem poder para ir até Cristo por vontade própria.
Engraçado, não é isto que Cristo ensinou. Ele disse: “Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado” (Marcos 16:15-16). Teria o Senhor Jesus dado uma ordem para não ter efeito algum? Se todos serão convencidos, vamos esperá-los em nossos templos!
O texto citado pelo pastor está em João 6:44. Diz assim: “Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia”. Ocorre que no versículo seguinte já há uma condicional, grifo meu: “Está escrito nos profetas: E serão todos ensinados por Deus. Portanto, todo aquele que do Pai ouviu e aprendeu vem a mim”. (João 6:45). Quantos ouvem e não aprendem? Contrariando a boa norma da hermenêutica de que um texto não deve ser tirado do contexto, o nobre pastor criou um pretexto. Já preguei para pessoas que choraram. Lhes perguntei: Você compreende o amor de Deus? Sabe que está perdido e só Jesus pode te salvar? Elas responderam: Sim! Então, quer fazer uma decisão por Cristo? Responderam: Não! Dúvidas? Leia Mateus 13:15-17.
Suas palavras transparecem uma variante calvinista chamada hipercalvinismo. Uma das premissas é justamente que não precisamos convidar ninguém, os eleitos virão ao encontro da Igreja. É uma excelente desculpa para assistir a um jogo de futebol na hora do evangelismo pessoal. Mas é na ordem de Jesus em Atos 1:8 que vemos a Igreja sendo empurrada para ir anunciar a Cristo em todas as nações debaixo da Terra. Imagina se os salvos ficassem em Jerusalém aguardando que os eleitos aderissem à Igreja? Pelo contrário, vemos que Paulo sentia inquietação para pregar a todos quantos pudessem ouvir, onde chegasse. É o que nos salta da leitura, por exemplo, dos capítulos 16 e 17 de Atos dos Apóstolos.
O próprio Senhor Jesus foi ao encontro dos pecadores (Mateus 4:23; 9:35; Marcos 1:14; Lucas 3:3, 8:1)!
2-) A prática do apelo geralmente é feita num clima sensacionalista, manipulativo e extremamente emocional.
Como já falamos, depende do que eu chamo sensacionalismo e manipulação. Se for um hino que toque o pecador e isto abrir em seu coração a fenda para a mensagem da Palavra, que caindo em boa terra brote, que seja! Não devemos ameaçar as pessoas, condená-las, expô-las, envergonhá-las. É até uma maldade por à mesa comida de primeira qualidade e não convidar um visitante ao banquete! Se ele não quiser comer não é problema nosso…
É comum ao final dos sermões encontrarmos os pregadores num clima extremamente emotivo convidando os ouvintes a decidirem por Cristo. Em momentos como esses, o que importa é sensibilizar o pecador levando-o a decidir por Cristo.
Todo bom pregador é emotivo ao falar de Cristo! Creio que a mensagem da salvação é emocionante para qualquer ouvido sensível. Não podemos confundir com emocionalismo barato, oba oba, pregação da prosperidade e coisas do gênero. Sim, prezado, o que importa é por todos os meios pregar a Cristo para qualquer pessoa. Ao menos é a premissa paulina em I Coríntios 9:22. Aliás, foi o recurso utilizado pelo apóstolo em Atos 26:28ss.
Caro leitor, uma decisão movida por emoções não aponta de forma efetiva para uma conversão a Cristo. Na verdade, a maioria daqueles que responderam um apelo para aceitar Jesus, não permaneceram na Igreja, na verdade, acredito que aproximadamente 90% daqueles que com lágrimas disseram sim a Cristo numa cruzada evangelística, onde a emoção é levada as últimas consequências não continuaram a trilhar a estrada da fé.
Cremos que as emoções procedem da alma. É o constrangimento promovido pela mensagem penetrando no coração do ser humano que o torna simpático à mensagem da Palavra. Tal dinâmica o emociona, toca-o profundamente, exatamente como Paulo impactou Agripa em Atos 26! Uns choram, outros se quebrantam. É no corpo que transparece o quanto a alma está compungida. Não podemos ignorar isso.
De fato, muitos desanimam na jornada. Aliás, esta probabilidade foi aventada pelo Senhor Jesus em pelo menos uma de sua parábolas, a do bom semeador (Mateus 13:3-8;19-23). O grande problema de diversas igrejas está no discipulado. Muitos se decidem, mas não são adequadamente acompanhados. É aí que o Maligno vem e arrebata a mensagem do coração, como bem falou Jesus na parábola citada. Igrejas efetivas no discipulado, inclusive, para os nascidos no Evangelho (filhos de pais crentes), tendem a reter mais conversos.
3-) O apelo contradiz o que a Bíblia dá como a ordem na salvação.
João 3.3 nos ensina que se o homem não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus. Regeneração antecipa conversão. É o novo nascimento que habilita o homem a confiar e crer em Cristo, portanto, querer que o homem decida por Cristo antes de ser convencido pelo Espírito Santo dos seus pecados, bem como regenerado pelo Senhor afronta as verdades bíblicas.
Não, não e não. Primeiro o homem se arrepende e depois se converte. Só então é regenerado. Está na Bíblia. Ou eu perdi alguma lição? Ouçamos Pedro: “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados, e venham assim os tempos do refrigério pela presença do SENHOR” (Atos 3:19).
De onde veio a dedução: “querer que o homem decida por Cristo antes de ser convencido pelo Espírito Santo dos seus pecados”? Cremos assim:
1) Nós pregamos (Marcos 16:15);
2) O Espírito Santo convence o ouvinte do pecado, da justiça e do juízo (João 16:8);
3) O ouvinte se conscientiza de sua necessidade, se arrepende e se converte (Atos 3:19);
4) Entrega sua vida a Cristo (Salmos 37:5);
5) Renuncia ao mundo e a o pecado (Mateus 7:13);
6) Deus, em Cristo, o regenera (Efésios 2:5; Tito 3:5);
7) Ele se torna nova criatura pela habitação do Espírito Santo (João 14:23).
Esta é a sequência! E a verdade bíblica, aliás, simples e elementar, sem sofismas ou jogos semânticos.
Nesse arrazoado gosto de usar a história dos dois ladrões. Um está a direita de Jesus na cruz, outro à esquerda. Ambos conheceram o Senhor e viram seu sofrimento. Estavam cientes dos seus pecados. O quadro que se desenrolava estava claro para ambos, mas somente um se julgou necessitado da misericórdia divina e fez a opção correta. Quem esteve no Paraíso conforme a promessa de Jesus naquele mesmo dia?
Como o nobre pastor entende o convite do próprio Jesus em Mateus 11:28: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei”? Isto depois de ter afirmado no versículo anterior: “Todas as coisas me foram entregues por meu Pai, e ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar” (Mateus 11:27)! Ele chamou a todos! Nem todos, porém, atendem seu chamado.
A igreja bíblica, prezado Pr. Renato Vargens, tanto anuncia a Jesus, conforme ordenança do Senhor em Marcos 16:15, quanto convida ao arrependimento (Atos 3:19). Quem o Espírito Santo tocar e convencer e se der por convencido se entregue!
Pense nisso!
Pensei. E não é nada do que falaste! Admiro sua pujança, eventualmente tenho ouvido sua pregação na Consciência Cristã e acompanhado alguns posts de seu blog, inclusive o parabenizo pelo aproveitamento da mídia. Mas nesse vagão eu não vou!
Abração!
Meus mais sinceros parabéns pela limpidez de seu comentário. Espero que as pessoas que elogiaram a defesa de Renato Vargens com tanto ardor e aversão aos assembleianos passem a usar o raciocínio, e não a emoção, já que tanto a criticam. Abraço.
Ótimo!
A cada ano surge uma teologia, ou melhor, uma moda diferente para agradar seus simpatizantes. Sinceramente, já não sei o limite para tanta imaginação…Daqui a pouco, vão afirmar que o evangelismo é perda de tempo, e os cordeirinhos vão aderir como verdade absoluta. Esqueceram que a nossa luta não é contra a carne e o sangue… estamos num campo invisível e minado. O apelo final é necessário sim!
Claro, preciso e cirúrgico. Deus o abençoe, prezado Pastor.