Ensina-nos a contar os nossos dias, de tal maneira que alcancemos corações sábios (Sl 90:12)
Para a maioria de nós tornou-se comum finalizar o ano fazendo planos para o ano seguinte: um salário melhor, uma casa ou carro melhor, ter ou não mais um filho, casar, estudar, etc. Alguns, porém, param para fazer um balanço, uma reflexão. Quais foram as principais conquistas, dificuldades, perdas e ganhos ao longo do ano que termina? Que fiz de bom? Onde posso melhorar? Fui bom pai? Marido? Filho? É natural que pensemos assim. Vivemos apreensivos com o dia de amanhã. E temos a capacidade de fazer retrospectivas.
Moisés era gente como eu e você, cheio de planos e sonhos e com uma tremenda responsabilidade: levar quase dois milhões de pessoas, através de um deserto perigoso e causticante, para uma terra onde nunca tinha ido antes. Ele saiu do Egito para Israel, no mapa são 450km. Mas não era um povo qualquer, numa missão qualquer. Um povo obstinado e ingrato, atravessando mil carências e desafios. Mas ele cumpriu a contento sua missão, embora não tenha conseguido alcançar ele mesmo o destino da viagem!
Não sabemos quando Moisés escreveu esse salmo. Se no início de suas provações, no meio da jornada no deserto ou perto do fim da caminhada. O que importa entender é que num dado instante da vida ele parou e decidiu fazer um balanço em oração. Quando ele dobrou os joelhos naquele dia, onde quer que estivesse, uma carga de histórias lhe seguia, outra de anseios se apoderava de sua mente. Se lermos os demais versículos até o 12 e os próximos cinco, até o 17, vamos entender que Moisés está em profunda reflexão.
Ele abre o salmo exaltando a grandeza e a eternidade de Deus. Um Deus que não tem calendário, nem parâmetro humano para medi-lo, que criou todas as coisas, tanto as pequenas, quanto as grandes. E as sustenta com a sua sabedoria. Sob suas ordens, as estrelas que vemos nos Céu estão fixadas, o dia de amanhã está definido, a história seguirá seu rumo!
Em contraste Moisés analisa a condição humana. Falível, falha, angustiada, ansiosa, passageira, pecadora. Ele afirma sobre o ser humano: “Tu os levas como uma corrente de água; são como um sono; de manhã são como a erva que cresce. De madrugada floresce e cresce; à tarde corta-se e seca” (Sl 90:5,6).
Não consigo me lembrar agora de outra pessoa a não ser Alexandre Magno. O maior dos reis gregos. Assumiu o trono aos 20 anos, com o assassinato de seu pai, em 336 a.C. A Grécia era então quase uma tribo. Cinco anos depois ele venceria um dos mais disciplinados e poderosos exércitos do mundo: o da Pérsia. E daí avançou por todo o mundo conhecido de então, vencendo todas as batalhas. Até que aos 33 anos, na flor da idade, Alexandre morreu de uma febre em 323 a.C.. Que ironia!?
Retomo o salmo 90, vamos encontrar Moisés pedindo não ouro, prata, dinheiro, servos, carros ou cavalos, mas inteligência e sabedoria. Estes dois últimos anos de 2020 e 2021 trouxeram muitas perdas. Um “simples” vírus, invisível a olho nu, enlutou famílias, tornou outras apreensivas diante da possibilidade de morte iminente, acabou com o emprego de muitos. Mostrando que somos pó e não temos o domínio das circunstâncias. Assim como Alexandre, não somos tão fortes como parecemos.
Moisés atravessa o salmo pedindo misericórdia de Deus. Precisamos nos voltar para o Senhor. Feliz é a pessoa que entende que Ele é tudo e pode nos poupar ou ceifar. Afinal, só Ele tem a nossa vida em suas mãos.
Por outro lado, é hora de agradecer, apesar de todos os desafios e dificuldades. O ano que finda foi desafiador, por qualquer ângulo que possamos analisar, mas também foi um ano em que vimos o favor do Senhor. No versículo 15, Moisés exclama: “Alegra-nos pelos dias em que nos afligiste, e pelos anos em que vimos o mal”.
O tolo passa pelos problemas sem refletir, o sábio para e pensa: Foi a grande misericórdia de Deus que nos ajudou até aqui. Foi Ele que nos ajudou, nos sustentou, nos deu saúde e força para o trabalho, nos conectou. É nisso que consiste contar os nossos dias, em aprender a depender de Deus e a confiar nele. Que Ele abençoe tua jornada, junto aos teus amigos, tua família, teus irmãos, teus filhos. Louvado seja o nome do Senhor!