O ano de 2004 marcou o lançamento do filme Como se fosse a primeira vez, título original 50 first dates. Na trama hollywoodiana Henry Roth (Adam Sandler) é um veterinário paquerador, que vive no Havaí e é famoso pelo grande número de turistas que conquista. Seu novo alvo é Lucy Whitmore (Drew Barrymore), que mora no local e por quem se apaixona perdidamente. Porém há um problema: Lucy sofre de falta de memória de curto prazo, o que faz com que ela rapidamente se esqueça de fatos que acabaram de acontecer. Com isso Henry é obrigado a conquistá-la, dia após dia, para poder ficar ao seu lado.
O filme foi bem recebido pelos telespectadores. E é ainda hoje assistido pelos fãs do ator e da atriz principais. É um roteiro simples mais interessante, que atrai a atenção do telespectador. Há cenas românticas e tocantes que mostram o poder do amor. Um observador mais atento diria que o roteiro remete a problemas como esquizofrenia e Alzheimer, os quais se e quando manifestados ensejam cuidado e atenção redobrada dos cônjuges. Mas não é sobre filmes que queremos falar, o assunto mais abrangente e interessante. O filme é apenas um link.
Quando uma pessoa aceita Jesus seu coração está em ebulição. Tudo é novo, mesmo que soe incompreensível. Um hino, uma pregação, uma exposição bíblica tem o efeito de provocar marcas profundas na memória. Aprendemos a conviver com as descobertas, fazendo por onde nos lembrar delas de maneira preciosa. Aquilo faz parte da nossa história, parte do que somos. Um novo convertido quer participar dos cultos, quer se envolver nos orgãos, embora saiba muito pouco sobre o que é ser crente.
Com o passar do tempo notamos uma apatia para as coisas de Deus. As pregações? Desinteressantes. Hinos? Repetitivos. Estudo da Palavra? Cansativos. A hora de ir à igreja? Pragmática. Relacionamento com Deus? Mecânico. Os dias se arrastam e parece que vamos ficando para trás. Precisamos nos deixar ser reconquistados por Deus!
Pensemos em alguns personagens bíblicos. O primeiro é Moisés. Liberto do rio, passou 40 anos no palácio com um importante funcionário real. Mas estava esquecido do que Deus fizera ao seu povo. Até que num incidente fatal vitimou um egípcio e teve que fugir às pressas para não ser morto pelo Faraó. Quarenta anos depois, volta àquele reino, não para reivindicar seu cargo, mas para ser o homem que conduziria o povo de Israel até Canaã. Ao final de sua vida alguém escreveu: “Nunca mais se levantou em Israel profeta algum como Moisés, com quem o SENHOR houvesse tratado face a face” (Deuteronômio 34:10).
O segundo personagem é Paulo. Criado no judaísmo, ensinado aos pés de Gamaliel (Atos 22:3). Alguém para quem a religião se resumia a cumprir os mandamentos, nem que para isso precisasse eliminar seus opositores. Para prender os crentes da Igreja Primitiva se dirigia bufando a Damasco na Síria, norte de Israel, quando caiu cego pelo esplendor de uma luz, da qual bradava uma voz: “Saulo, Saulo, por que me persegues?”. Nunca mais foi o mesmo, vindo a se tornar o maior missionário e escritor bíblico do Novo Testamento.
Poderíamos falar de Jonas, Pedro, Tomé, são personagens que precisaram ser conquistados por Deus, mas para que o texto não se alongue, vamos falar de Jesus. E ele não precisou ser conquistado, mas é conquistador. A luz, o caminho, a verdade, a vida. Morreu, foi sepultado, ressuscitou num domingo como este. Mas para muitos a história se resume a páginas, episódios, relatos, gente boa que encontrou por acaso com o Mestre. Para muitos é mesmo como se Jesus ainda estivesse detrás de uma pedra e as mulheres viessem chorando pelo caminho. Evidentemente, não podemos perder a narrativa, mas o fato é que Jesus se tornou real. E a partir disto deve impactar a nossa vida cotidianamente.
Uma das razões pelas quais perdemos a alegria de servir a Deus é porque perdemos a motivação. Por diversas razões perdemos o foco, esquecemos o motivo pelo qual estamos na Igreja. Não estamos aqui para nos reunir com amigos, apenas. Não estamos aqui porque participamos de um orgão, apenas. Não estamos aqui para agradar ao pastor, ao presbítero. Estamos aqui para adorar ao Senhor e salvador de nossas vidas. E enquanto o adoramos todo tipo de glória vinda de sua parte enche o templo, mera casa onde Deus se manifesta temporariamente.
Que não precisemos ser conquistados todos os dias, diríamos de imediato. Mas não podemos esquecer o frescor do amor à primeira vista. Aquela coisa bela, sonhada, internalizada. Essa alegria não pode sair do nosso coração, haja o que houver. Ao lado de grandes sofrimentos e desafios inerentes à vida cristã, não podemos esquecer como Deus nos ama. Além de gritarmos e exaltar seu nome, não podemos esquecer que foi por amor que Ele se entregou numa cruz por nós. Cristo, nossa páscoa, estendeu seus braços para a negligência, para a indolência, para a indiferença. E nos amou profundamente (Romanos 5:1-8). A cada dia Ele espera correspondência. Que não esqueçamos aquele que nos ama e se entregou por nós.