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CGADB: Entenda o problema das eleições

Judicialização na CGADB

CGADB

Nobres, 100 leitores, vos escrevo no intuito de dirimir algumas dúvidas sobre o caso das eleições na CGADB. Semana passada veio à tona a primeira decisão judicial que determinou o afastamento de um dos candidatos. E isto gerou uma onda de publicações e comentários em blogs e redes sociais.

Diversas pessoas me procuraram na intenção de obter maiores esclarecimentos. Ressalto de partida que não sou parte interessada em nenhuma das ações propostas. Nada contra quem o é! Aqui é um blog pessoal e falo em meu nome, com as regras dispostas no artigo 5º da Constituição Federal. Eu não sou nem um rábula, mas, vedado o anonimato, sei que a opinião é livre em nosso Pais.

Com a intenção de esclarecer a quem interessar possa, escrevemos estas linhas. Reconheço, por outro lado, a importância da internet para a divulgação de informações desta natureza. Apenas o post do blog do Pr Gesiel Oliveira, que detalhou o desfecho da primeira ação, deve ter ultrapassado a esta altura os dois milhões de acessos! É um público impensável de se acessar de outro modo e que estaria alijado a depender da liderança maior. Por outro lado, procuramos nos informar para repassar tais informações com o máximo de clareza possível.

Informações preliminares

A CGADB, não esqueçamos, é uma entidade que reúne os ministros (pastores e evangelistas) assembleianos. É uma entidade de classe, mas não é igreja no sentido de templo ou espiritualidade e adoração. É composta por crentes. Suas ações, porém, giram mais em torno de poder do que de reino. Ponto. Parágrafo.

Deveria ditar os rumos estratégicos da denominação. Na prática não apita em campo nenhum. Gere a CPAD, de onde obtém parte das receitas que mantém seu funcionamento.

As eleições

A cada quatro anos há uma eleição para a presidência da entidade e demais cargos e orgãos. Na prática, a força está com o cargo máximo. Poucos o postulam porque, em primeiro lugar, a campanha exige um investimento que, pessoalmente, ninguém tem. Em segundo, a prioridade de candidaturas vai para os presidentes de convenções e, terceiro, muitos dos quais fecham com o candidato indicado pelo presidente atual, tornando inviável qualquer mudança no paradigma. É puro poder! Bobo quem pensar o contrário.

Em 30 anos tivemos 4 papas, 8 presidentes da República e apenas um presidente da CGADB, que agora não pode mais se candidatar, por uma vedação estatutária.

Há três candidatos a presidente neste 2017: pastores José Wellington Júnior, Samuel Câmara e Cícero Tardim. E diversos outros para os demais cargos. Faço nova ressalva para informar que não tenho pendores por nenhum dos nomes. O primeiro tem propostas vagas para uma entidade que precisa delas para ontem, o segundo tem propostas inexequíveis, o terceiro é um ilustre desconhecido. Nada sei sobre. Ponto. Parágrafo.

Dados e problemas

Foi decidido que as eleições deste ano seriam online (a Terceira Via, que seria uma tentativa de quebrar o monopólio das indicações, visando arejar a entidade, proposta por mim, pelo Pr. Geremias do Couto e contando na produção gráfica como o irmão Elian Soares, já havia sugerido esta possibilidade desde abril de 2013). A espanhola Scytl foi a empresa contratada, segundo informes, por mais de R$ 600.000,00 para operacionalizar as inscrições, a cargo de cada convencional, via internet.

É um valor muito alto sob qualquer ótica. O TSE gastou R$ 4,50 com cada eleitor apto ao voto nas eleições municipais de 2016[1], com urnas eletrônicas, logística, pessoal, etc. Uma opção barata e viável seria uma cédula colorida com as fotos e nomes dos candidatos e as eleições se fariam nas Convenções, em cabines isoladas (dessas baratinhas de papelão que se usa há tanto tempo nas eleições seculares), voto secreto. Havendo confiança cristã, as próprias Convenções se encarregariam de fazer a contagem e encaminhar as totalizações. Custaria o que? R$ 50.000,00? Até hoje os EUA, aquele país subdesenvolvido, fazem eleições em cédulas! Mas, deixemos estes dados de lado.

Há 30.949 eleitores cadastrados conforme o site da CGADB. É pouco para o alarde que se faz em torno de 100.000 pastores em todo o Brasil. E menos ainda para decidir o destino de supostos 40 milhões de assembleianos.

Com o fechamento das inscrições e análise dos dados, foram apuradas as seguintes suspeitas:

  1. Diversos e-mails repetidos. Ou seja, mais de um eleitor com o mesmo e-mail. Jamais a Scytl deveria permitir isso em seu sistema de 600 e tantos mil reais!
  2. Diversos e-mails inexistentes informados nas inscrições. O que inviabiliza o envio da senha para o convencional inscrito. Condição indispensável para o voto;
  3. Diversos telefones celulares inexistentes. Dado essencial, conforme as normas da eleição, para  envio combinado com o e-mail;
  4. Inscrição de falecidos;
  5. Inscrição de convencionais já desligados da Convenção indicada em cadastro anterior;
  6. Inscrições em massa a partir de único IP[2]. O que evidenciaria que um mesmo computador, numa convenção, por exemplo, estaria fazendo as inscrições;
  7. Omissão das senhas dos inscritos em uma ou mais condições acima. Isso é indispensável para cada um, individualmente, acessar o sistema e votar.

Em tempo hábil a comissão eleitoral da CGADB foi questionada quanto a esses problemas. Alguns dos concorrentes contrataram auditores especializados independentes para analisar os dados e os resultados foram entregues à comissão. Todos os argumentos foram repelidos e ignorados. Na maioria a réplica se ateve a responsabilizar as convenções pelo envio dos dados.

Num primeiro momento esta tese se sustentaria, mas há alguns problemas aqui:

  1. As inscrições são individuais. Eu JAMAIS cadastraria e-mail ou telefone errados sabendo que eles seriam indispensáveis para receber minha senha, que me tornaria apto a votar;
  2. Se as convenções fossem as responsáveis pelos dados dos inscritos, elas seriam obrigadas a reconhecer os erros e admitir que fizeram as inscrições em lugar terceiros? Se, por exemplo, um falecido foi inscrito, óbvio que alguém se inscreveu por ele!
  3. Com tantos dados errados e de procedência suspeita, como confiar na lisura do pleito?

Diante da impossibilidade de uma solução negociada, um grupo de juristas, alguns dos quais pastores e sem nenhuma ligação direta com o Pr. Samuel Câmara, principal oponente para o cargo de presidente da CGADB, se viu na obrigação de ajuizar ações, em diversos pontos do País, para reparar os supostos ilícitos cometidos no âmbito da disputa eleitoral. A palavra final está agora nas mãos da justiça dos homens.

É judicialização?

Já falamos aqui sobre a judicialização da Igreja. Portanto, não é novidade que torço o nariz para tal necessidade. O que deveria acontecer é a alta cúpula de nossa denominação ter sensibilidade para fazer um pleito sob as condições mais justas possíveis, dentro da vontade de Deus e do livre raciocínio que pauta os homens livres e salvos.

Mas tantas e tão tresloucadas iniciativas já foram tomadas pelos amantes do poder assembleiano, que somente os ingênuos acreditam em decisões isentas e espirituais. Aí se precisa de juristas para dar ares de credibilidade às decisões. Esta é uma das lástimas de nossa Igreja: ouvir e não confiar em quase nada que os líderes digam! Não é raro Brasil afora ouvir e ficar pensando nas implicações em proveito próprio que o líder está tramando!

São problemas estruturais que não tivemos estatura para enfrentar. É o caso do nepotismo entre outros, rechaçado até no meio secular. Lembro de uma EBO que participei em outra Convenção, na qual o preletor contou a seguinte história (perdoem-me os lapsos nos detalhes): “O ministério se reuniu com o presidente e indicou um Filhinho da vida como pastor. A finalidade última era adular, mas ele era talentoso. O que fez o sábio pastor? Ah! Ele seria um bom pastor? Então, enviou seu filhinho querido para uma distante região de sua Convenção. Algo como o Sertão nordestino. Só haviam pedras e umas três ou quatro distantes congregações. O jovem arregaçou as mangas, pediu graças e sabedoria a Deus e em cinco anos eram vinte ou trinta. O pai o tirou de lá e o enviou para mais distante ainda. A mesma multiplicação ocorreu. Nisso, passados dez ou quinze anos, veio a consagração do menino!” Mas quantos fazem assim?

Este blog se ocupa há dez anos de falar sobre estes problemas, mas, infelizmente, o eco é pequeno na liderança maior brasileira. Quem sabe alguns desses problemas da eleição fossem evitados? Prevalece, ao contrário, a imposição de poder da cúpula sobre os liderados, enquanto a denominação sangra e os membros sofrem. Somente em uma semana tivemos uma penca de eventos os mais desabonadores para a AD brasileira, dos quais se ocuparam negativamente as redes sociais.

Finalizando…

Assim, caminhamos para um cenário negativo nos próximos dias, com o desfecho das demais ações judiciais, que podem até anular o pleito, forçando reiniciar as gestões neste sentido, com mais desgastes e gastos ainda.

Gunnar Vingren e Daniel Berg se reviram no túmulo e se pudessem observar ao longe, perguntariam entre si: “Onde foi que erramos?”. A bem da informação não foram eles que criaram a CGADB!

Oremos por nossa amada denominação! Tenha certeza que eu gostaria de estar escrevendo sobre outros assuntos mais celestiais nesta manhã.

Leia também A CGADB que temos x A CGADB que precisamos!

Leia aqui o post do Pr. Gesiel Oliveira que detalha a decisão judicial

[1] http://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2016/Outubro/eleicoes-2016-presidente-do-tse-faz-balanco-sobre-o-segundo-turno

[2] IP é a assinatura de um computador na internet

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