Prezados 40 leitores, vocês souberam pelas redes sociais que houve uma reunião da UMADENE com a presidência da CGADB, nas dependências da IEADPE. Traduzo: A Assembleia de Deus em Recife/PE foi anfitriã de uma reunião com 14 dos 16 pastores presidentes da Região Nordeste. Foi um gesto louvável já que há uma rivalidade histórica dentro do Estado, mas a intenção não é debater sobre isso. Pra quem não sabia da reunião, aqui vão as fotos oficiais, pescadas do Facebook do Pr. José Wellington, colhidas pelo amigo Tiago Bertulino. Infelizmente, não existe home page oficial da UMADENE para acompanhar os eventos do Nordeste, nem a CGADB registra os seus. É uma lástima em tempos digitais, mas um dos grandes sintomas do descompasso das duas entidades com os assembleianos em geral:
Obviamente, eu não estava lá. Aliás, a reunião não teve edital, não teve agenda divulgada, muito menos pauta conhecida. É uma coisa de presidente para presidente. Relembro aqui que foi assim a escolha do atual presidente da UMADENE. Todos os ministros que puderam comparecer a Aracaju/SE estavam presentes, mas o nome foi escolhido entre os presidentes e apresentado para aprovação simbólica dos demais. É um tipo específico de democracia oligárquica pouco estudado pelos especialistas. Da penúltima vez os ministros viajaram para a eleição, com o nome já posto. Mas, eu gostaria de aventar a pauta discutida, de modo fictício, supondo que alguns dos graves problemas que a AD enfrenta por aqui foram encarados.
Em primeiro lugar, o presidente pontuou a grave desavença entre as duas grandes convenções pernambucanas. Disse que tem recebido relatos até de não evangélicos que não entendem como duas igrejas de uma mesma denominação, filiadas à mesma CGADB, mantém uma inimizade tão forte a ponto de impedir a visita de pessoas e orgãos de uma igreja à outra. Falou dos diversos ministérios que existem no Sul/Sudeste do País e que convivem de maneira razoável. Num rasgo de sinceridade perguntou: “Há um céu verde e outro azul?” Todos abaixaram a cabeça pensativos. Mais adiante ponderou: “Como é que temos um secretário da Mesa Diretora da CGADB, que não pode cear aqui?” E concluiu: “Temos que acabar com essa divergência. Vocês poderiam mediar um conflito como os Ferraz e Novaes no interior de Pernambuco? Como ainda tem coragem de citar o Salmo 133?”. Aproveitou e falou das rivalidades existentes em outros Estados da região e que merecem a mesma crítica.
Aproveitando a oportunidade, em segundo lugar, perguntou: “O que está acontecendo com o surgimento de tantos novos ministérios em Pernambuco? Ouço falar de uns quinze apenas nos dois últimos anos!” Falou que o apoio de uma Convenção de outro Estado aos novos ministérios fere o estatuto da CGADB e anunciou punições para tal despautério. Pontuou que os presidentes presentes precisam repensar as ações e fazer um mea culpa, analisando as circunstâncias de cada divisão.
Em terceiro lugar, ponderou sobre a função da UMADENE na promoção do evangelismo em todo Nordeste. Iniciou projetando um slide da região, composta por nove Estados:
Falou sobre o peso estratégico da região, que é a única que possui uma união de ministros para interagir entre si. Aí complicou um pouco: “Não ouço falar muito de interação entre os senhores. Parece que só se conhecem em convescotes e EBOs. Precisamos compreender que a nossa luta se realiza todos os dias, além dos grandes eventos.” Instou a todos para fazer valer o lema da entidade. Dirigiu-se a um dos presentes e emendou: “Quantas vezes o senhor telefonou para seu congênere este ano?” A outro disse: “Por que o senhor não esteve no aniversário daquele ali?”. O clima ficou pesado.
Em quarto lugar, adotou uma postura mais pragmática trazendo gráficos desafiadores, como este aqui:
Falou dos grandes desafios da região que concentra quase um quarto da população brasileira. Citou como exemplo de dificuldades o Piauí, com apenas 9,7% da população evangélica. Não deixou de pontuar que, estando em Pernambuco, não deveriam os presentes se acomodar, pois apenas 2 em cada 10 pernambucanos é evangélico. Na Paraíba, 85 em cada 100 pessoas não são evangélicas. Concluiu: “Há um mar de pessoas a serem alcançadas!”. Disse que a CGADB está aberta a sugestões e apoiará todas as iniciativas que visem minorar o problema. “Não podemos repetir o fiasco da Copa!”, disse em alto e bom som!.
Em quinto lugar, engrenou críticas à atuação da UMADENE no sertão brasileiro. Comparou a região sertaneja à janela 10/40. Repreendeu os presidentes que enviam recursos para o Exterior, enquanto deixam à míngua obreiros e missionários na região. A dada altura frisou: “Desconfio de alguns eventos ditos de Missões. São só vitrines para ações incoerentes. Prezados, a Igreja é a Missão. E todo trabalho feito tanto aqui, quanto ali, é Missão! Parem de incutir esta falácia aos ouvidos dos que contribuem. Vocês estão mentindo!”. Citou diversos casos que chegam a CGADB de atrasos nas ajudas de custo e acentuou a necessidade de priorizar o obreiro como catalisador de ofertas e dízimos. Com ar matreiro disse: “Que estímulo tem o obreiro que vê atrasar seu próprio salário, enquanto vocês falam de tantos projetos megalomaníacos?”.
A UMADENE se comprometeu em apoiar aqueles que já estejam na região e enviar outros. Foi criado um fundo voltado para a evangelização do Sertão. A proporção escolhida é o dízimo do quantitativo que as próprias convenções alardeiam como a quantidade de membros que possuem versus o total de habitantes de seus estados. Ou seja, quem é maior ajuda mais. Uma comissão foi separada para estudar as necessidades e apresentar um relatório da arrecadação e aplicação dos recursos à CGADB.
Em sexto lugar, o presidente falou de questões financeiras: “Ouvi dizer de igrejas quebradas, em absoluto vermelho”. Fico pensando: “Como se quebra financeiramente um igreja? Com despesas inadequadas para as receitas!”. Falou de um recorte postado nas redes sociais sobre contas maquiadas e destacou a importância da lisura e da transparência delas. Sobrou pra todo mundo. Disse que a CGADB estará auditando as contas aleatoriamente, para evitar escândalos e desmandos. Enfatizou o cuidado que todos devem ter com a gestão do dinheiro, especialmente nestes tempos de crise.
Em sétimo lugar, falou de uma grande inovação que está sendo gestada na sede da entidade e que irá beneficiar a todos. Um grande projeto de interação tecnológica divulgando as iniciativas assembleianas online. Falou que o MaisAD (o projeto de ter uma operadora de telefone evangélica) estava sepultado, não vingou. Poucos aderiram. Que os irmãos estavam em massa nas redes sociais e que qualquer iniciativa fora delas, neste momento, significaria torrar dinheiro em vão.
A cereja do bolo veio ao final quando anunciou um ENEM teológico começando pelo Nordeste: “O resultado dessa avaliação será tabulado e posto à disposição dos senhores. A CGADB irá atuar nos bolsões de educação teológica. Faremos um mapeamento das necessidades e vamos atuar fortemente nelas”. Disse que todos os ministros deverão se submeter à tal avaliação. Um dos presentes perguntou: “Temos realmente necessidade disso?”. Ele respondeu, enfático: “Por que há tanta meninice em nossos cultos? Tantos chavões? Os senhores já puseram em prática o teste de comparecer às doutrinas de suas congregações de surpresa e se postar no meio do povo, somente para ouvir o que seus obreiros estão falando?”. Falou que tal ausência de conteúdo teológico tem feito a alegria das seitas e heresias.
Finalizou dizendo que em janeiro fará um balanço das ações propostas na reunião. E, se não houver avanço, proporá a extinção da UMADENE por absoluta falta de propósito. Todos ficaram surpresos porque nem se falou nas eleições do ano que vem.
E assim terminou uma excelente e produtiva reunião.