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As parábolas de Jesus – Subsídio introdutório

Parábolas de Jesus - Subsídio Introdutório

Parábolas de Jesus - Subsídio Introdutório

O que são parábolas? Parábolas são elaborados recursos linguísticos encontrados em todas as culturas para ensinar. A partir de histórias comuns e tocantes sintetizam verdades que precisariam de muito espaço para serem ditas. Em se tratando das parábolas de Jesus temos, além da ilustração em sentido comum e generalizado, a mensagem incomparável da palavra de Deus. Já falamos aqui sobre a importância dos storytellers para o mundo corporativo. Todas as grandes marcas e produtos do mundo, as séries de TV, os filmes de cinema, os enredos da internet, contam uma história para seu público. As histórias mais atrativas fidelizam o ouvinte/leitor/telespectador. Isso nem sempre quer dizer que a história é a melhor, mas que ela conta melhor o que lhe parece familiar ou interessa. O mérito das parábolas de Jesus é não fazer concessões ao leitor ou ouvinte. Temos nelas os dramas e personagens tradicionais (o pródigo, a semente, o rico, o pobre, os contrastes), mas não se pode apenas levantar e ir embora após ouvi-las. Pelo contrário, somos confrontados. De fato, muitas pessoas foram embora caladas diante das assertivas do Mestre, mas estavam atingidas de modo definitivo por sua mensagem, não eram indiferentes. Inclusive, é um exercício imprescindível analisar como os ouvintes reagiram às parábolas de Jesus! Por outro lado, nem sempre a parábola é compreendida pelo ouvinte. Jesus mesmo teve esta dificuldade ou fez questão de ocultar a interpretação de uma parábola para alguém (Mateus 13:11). Outro detalhe é que nem sempre está claro que aquilo que Jesus está falando é uma parábola. Em alguns casos o escritor anuncia: “E falou-lhe de muitas coisas por parábolas… (Mateus 13:3)”. Noutras é a própria estrutura do texto que nos faz compreender que é uma parábola. O termo grego
Lê-se parabolê
Em grego, o termo que significa parábola é parabolê (strong 3850), cujos cognatos, ocorrem 50 vezes ao longo do Novo Testamento[1]. Vem de pará (perto, ao lado, lado a lado, com) + ballô (lançar), ou seja, um ensino lançado ao lado da verdade que se deseja repassar ao ouvinte. Comumente se refere à ilustração de uma doutrina ou preceito. A palavra tanto pode significar uma parábola, um provérbio (Lucas 4:23) ou imagem/alegoria (Hebreus 9:9, 11:9). Em Mateus ocorre 17 vezes, em Marcos 13, em Lucas 18 e em Hebreus 2. Não há parábolas em João! O problema da interpretação alegórica das parábolas No desenvolvimento da teologia da Igreja Primitiva as parábolas foram colocadas em lugar de destaque. Isto soaria natural porque seu conteúdo era familiar a qualquer ouvinte, além de refletir o pensamento do próprio Mestre. Entretanto, os pais da Igreja procuraram enfatizar exageradamente os aspectos figurados das parábolas a ponto de descaracterizar totalmente sua mensagem. Estava em voga a chamada interpretação alegórica, risco no qual caem ainda muitos expositores hoje em dia. J. Jeremias[2] especula que uma interpretação levada ao pé da letra de Marcos 4:11.12, criou o problema. Os primeiros intérpretes supunham que as palavras de Jesus continham um sentido a ser descoberto, que não estaria muito claro para os leitores do primeiro século. Robert Plummer[3], transcreve a seguinte alegoria da parábola do Bom Samaritano, escrita por Orígenes (185-254 d.C.), a partir do endosso de um antecessor anônimo, que seria um dos presbíteros da Igreja:
Detalhes Explicação
Homem que desceu para Jericó Adão
Jerusalém Paraíso
Jericó O mundo
Salteadores Poderes hostis
Sacerdote A Lei
Levita Os Profetas
Samaritano Cristo
Feridas Desobediência, vícios
Jumento Corpo de Jesus
Hospedaria A Igreja
Dois denários Conhecimento do Pai e do Filho
Hospedeiro Chefe da Igreja
Retorno prometido do samaritano Segunda vinda de Cristo
O método alegórico seria, então, adotado nos próximos anos até depois da Reforma Protestante na hermenêutica das parábolas. Até que em 1888, um erudito alemão de nome Adolf Jülicher, especialista em Novo Testamento, desmascararia esta falácia. Outros se seguiriam fornecendo material de apoio como J. Jeremias e C. H. Dodd[4]. Como dissemos, ainda hoje corremos o risco das interpretações alegóricas das parábolas. Que dizer da parábola da vinha em Mateus 20? Diversos expositores compreendem o recrutamento como etapas da salvação na História. Alguns calvinistas usam Mateus 20:16: “muitos chamados, mas poucos escolhidos”, para justificar sua soteriologia. Não é raro encontrar quem alegorize percentuais da parábola do semeador (Mateus 13:1-9). Seria 25% o número dos que ouvem e guardam a Palavra? E a parábola das dez virgens? Somente a metade dos crentes serão salvos? Já ouvi pregações do tipo em escolas bíblicas e outros cultos! Parábolas em Israel J. Jeremias enfatiza que não era comum o uso de parábolas pelos rabinos. Ele cita que aparecem apenas duas comparações parabólicas de Hilel, pelo ano 20 a.C., e uma parábola de Jochanan ben Zakkai por volta de 80 d.C. Porém, os ditos proverbiais e a própria palavra hebraica sinônima de parabolê (mashal) é amplamente utilizada no Velho Testamento, especialmente nos chamados Livros de Sabedoria. E era um recurso largamente utilizado para o ensino e aprendizagem em Israel. São tidas como parábolas algumas passagens chave do Velho Testamento, entre outras, as de Natã perante Davi (2 Samuel 12:5), a história da mulher de Tecoa (2 Samuel 14:8) e o homem desaparecido (I Reis 20:40). Como interpretar as parábolas? A moderna hermenêutica prioriza a compreensão das parábolas a partir do cenário judaico da época de Jesus. Ainda que tais cenários remetam o homem do século XXI a itens com os quais não precisa lidar diretamente. Boa parte de nós nunca criou ovelhas, mas sabe como é preciosa aquela que se perde, embora hajam outras noventa e nove. Sequer precisamos voltar a criá-las para nos apercebermos de seu valor. Talvez, nunca perdemos um pródigo, mas sabemos exatamente o valor de um filho para seu pai. E por aí vão as parábolas falando para pessoas de todos os matizes culturais. O estudo das parábolas, portanto, deve fugir da alegoria, buscando tanto quanto possível enquadrar a história no cenário judaico dos tempos de Jesus como dissemos há pouco. O semeador não pode, por exemplo, ser encarado como desleixado ao deixar que as sementes caiam ao pé do caminho. Para a semeadura da época era perfeitamente razoável tal comportamento, porque os caminhos também eram revolvidos pelo arado. À medida que se escavasse o solo a semente estaria submersa e pronta para germinar. Uma providência de extrema importância é ler e reler os textos nos quais cada parábola se encontra[6]. Por vezes, um detalhe ou outro passa despercebido porque o leitor não teve a devida atenção. Dispensável dizer, também, que o texto seja apreciado em várias traduções e versões da Bíblia. Se este post for usado numa classe de ensino qualquer, por exemplo na EBD, o professor pode providenciar que os alunos tragam diversas versões de Bíblias, para ler duas ou três parábolas. E assim os alunos ouvirão tais versões e poderão compará-las. É um excelente exercício. É imprescindível ao estudante lançar mão de um livro que traga elementos da vida diária nos tempos de Jesus para entender como se desenrolava o cotidiano das pessoas naquela época e poder compreender algumas das parábolas. Sem tal abordagem é impossível compreender uma parábola com a das dez virgens, por exemplo. Um casamento naqueles tempos se processava de modo totalmente diferente de nossos dias.
Este estudo irá demonstrar nuances não percebidas e transportará os ouvintes para a realidade do Oriente Médio. Sem contar que há singulares diferenças entre os próprios textos originais. J. Jeremias assinala que Lucas fala de casas com subsolo (Lucas 6:47) e que a mostarda era plantada no horto, um costume grego e não judaico, inclusive proibido na Palestina. Já Marcos utiliza a divisão romana militar da noite em quatro turnos, ao contrário do comum em Israel. Gostaria de sugerir a leitura (um pouco maçante e erudita para os menos iniciados) do magistral livro de Joachim Jeremias: As parábolas de Jesus!

As párabolas de Jesus – Joachim Jeremias

Finalizando… Finalizamos esta introdução às parábolas lembrando que foram, inicialmente, dirigidas à Israel. Muitas delas são advertências de juízo para o povo da promessa. É por esse prisma que devemos enxergá-las inicialmente. Elas podem e devem, porém, ser utilizadas para o ensino da Igreja, pois há ali profundas lições doutrinárias e espirituais para todos nós. Jesus também tinha isso em mente. Mãos à obra! [1] Ocorrências do termo parabolê e seus cognatos:
  1. Mateus 13:3: E falou-lhe de muitas coisas por parábolas…
  2. Mateus 13:10: …Por que lhes falas por parábolas?
  3. Mateus 13:13: Por isso lhes falo por parábolas…
  4. Mateus 13:18: Escutai vós, pois, a parábola do semeador.
  5. Mateus 13:24: Propôs-lhes outra parábola…
  6. Mateus 13:31: Outra parábola lhes propôs…
  7. Mateus 13:33: Outra parábola lhes disse…
  8. Mateus 13:34: Tudo isto disse Jesus, por parábolas à multidão…
  9. Mateus 13:34: …nada lhes falava sem parábolas
  10. Mateus 13:35: …Abrirei em parábolas a minha boca…
  11. Mateus 13:36: …Explica-nos a parábola…
  12. Mateus 13:53: E aconteceu que Jesus, concluindo estas parábolas…
  13. Mateus 15:15: …Explica-nos essa parábola.
  14. Mateus 21:33: Ouvi, ainda, outra parábola
  15. Mateus 21:45: …ouvindo estas parábolas…
  16. Mateus 22:1: …tornou a falar-lhes em parábolas…
  17. Mateus 24:32: Aprendei, pois, esta parábola da figueira…
  18. Marcos 3:23: …disse-lhes por parábolas…
  19. Marcos 4:2: Ensinava-lhes muitas coisas por parábolas…
  20. Marcos 4:10: …interrogaram-nos acerca da parábola.
  21. Marcos 4:11: …estas coisas se dizem por parábolas.
  22. Marcos 4:13: …Não percebeis esta parábola?…
  23. Marcos 4:13: ..Como, pois, entendereis todas as parábolas?
  24. Marcos 4:30: …com que parábola o representaremos?
  25. Marcos 4:33: E com muitas parábolas…
  26. Marcos 4:34: E sem parábolas…
  27. Marcos 7:17: …o interrogavam acerca desta parábola.
  28. Marcos 12:1: E começou a falar-lhes por parábolas…
  29. Marcos 12:12: …que contra eles dizia esta parábola…
  30.  Marcos 13:28: Aprendei, pois, a parábola da figueira…
  31. Lucas 4:23: …Sem dúvida me direis este provérbio…
  32. Lucas 5:36: E disse-lhes também uma parábola…
  33. Lucas 6:39: E dizia-lhes uma parábola…
  34. Lucas 8:4: …disse por parábola:
  35. Lucas 8:9: …Que parábola é esta?
  36. Lucas 8:10: …mas aos outros por parábolas…
  37. Lucas 8:11: Esta é, pois, a parábola…
  38. Lucas 12:16: E propôs-lhe uma parábola…
  39. Lucas 12:41: …dizes esta parábola…
  40. Lucas 13:6: E dizia esta parábola…
  41. Lucas 14:7: E disse aos convidados uma parábola…
  42. Lucas 15:3: E ele lhes propôs esta parábola…
  43. Lucas 18:1: E contou-lhes também uma parábola…
  44. Lucas 18:9: E disse também esta parábola…
  45. Lucas 19:11: …e contou uma parábola…
  46. Lucas 20:9: E começou a dizer ao povo esta parábola…
  47. Lucas 20:19: …entenderam que contra eles dissera esta parábola.
  48. Lucas 21:29: E disse-lhes uma parábola…
  49. Hebreus 9:9: Que é uma alegoria para o tempo presente…
  50. Hebreus 11:19: E daí também em figura…
[2] JEREMIAS, J. J., As parábolas de Jesus, Paulus: 1986 [3] PLUMMER, Robert L., 40 questões para se interpretar a Bíblia, Editora Fiel: 2018 [4] BROWN, Collin, Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, Vida Nova: 2000 [5] Timóteo Carriker, especialista em grego, compilou uma lista com 40 parábolas no Novo Testamento. Transcrevo-a copiada do site da Ultimato, fazendo uma pequena adaptação para ordenar pela ordem dos livros do NT. Ele havia organizado a partir de Lucas:
  1. O joio — Mateus 13.24-30
  2. O tesouro escondido — Mateus 13.44
  3. A pérola — Mateus 13.45-46
  4. A rede — Mateus 13.47-48
  5. O empregado mal — Mateus 18.23-24
  6. Os trabalhadores no vinhedo — Mateus 20.1-16
  7. Os dois filhos — Mateus 21.28-31
  8. A festa de casamento — Mateus 22.2-14
  9. As dez virgens — Mateus 25.1-13
  10. As ovelhas e as cabras — Mateus 25.31-36
  11. O retorno do proprietário — Marcos 12.1-9
  12. A semente que cresce — Marcos 4.26-29
  13. O bom samaritano — Lucas 10.30-37
  14. A ovelha perdida — Lucas 15.4-7
  15. A moeda perdida — Lucas 15.8-10
  16. O filho (perdido) pródigo — Lucas 15.11-32
  17. O administrador desonesto — Lucas 16.1-8
  18. O homem rico e Lázaro — Lucas 16.19-31
  19. Os servos — Lucas 17.7-10
  20. A viúva e o juiz — Lucas 18.2-5
  21. Os talentos — Lucas 19.12-27
  22. Os lavradores maus — Lucas 20.9-16
  23. A roupa nova — Lucas 5.36
  24. O vinho novo — Lucas 5.37-38
  25. Os dois alicerces — Lucas 6.47-49
  26. Os dois devedores — Lucas 7.41-43
  27. O semeador — Lucas 8.5-8
  28. A lamparina — Lucas 8.16-18
  29. Os empregados alertas — Lucas 12.35-40
  30. O amigo persistente — Lucas 11.5-8
  31. O rico sem juízo — Lucas 12.16-21
  32. O empregado fiel — Lucas 12.42-48
  33. A figueira sem figos — Lucas 13.6-9
  34. A figueira sem folhas — Lucas 21.29-31
  35. A semente de mostarda — Lucas 13.18-19
  36. O fermento — Lucas 13.20-21
  37. Os convidados para festa de casamento — Lucas 14.7-14
  38. A grande festa — Lucas 14.15-24
  39. A construção duma torre — Lucas 14.28-33
  40. O fariseu e o cobrador de impostos — Lucas 18.10-14
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