Prezados, ultrapassamos a metade do trimestre, mas a tônica dos assuntos persiste. Como o comentarista, Pr. Elinaldo Renovato, deixou claro, estamos analisando neste subsídio a segunda epístola de Paulo a Timóteo. Alguns pontos cruciais e nevrálgicos serão postos nesta lição.
Discutindo os objetivos da lição
Nossa lição possui três objetivos:
1) Apresentar a pureza e a humildade do obreiro aprovado por Deus
Todos sabemos que está cada vez mais crítico falar de pureza na Igreja. E o problema começa na liderança. Cada vez mais interesses obscuros e inconfessáveis. E não é preciso ir aos vídeos das igrejas neopentecostais. Os escândalos se sucedem numa velocidade vertiginosa. Dinheiro, poder, influência, prevalência sobre os concorrentes e toda a sorte de atitudes que não condizem com um servo de Deus, muito menos com um obreiro da casa do Senhor.
Humildade, por outro lado, é artigo raro. O normal são líderes inchados, prepotentes e cheios de si. Embora muitas vezes não demonstrem. Claro que há obreiros que fogem à regra, mas são justa e contraditoriamente a exceção.
2) Explicar as expressões “vaso de honra” e “vaso de desonra”.
Podemos ser as duas coisas, a opção é nossa. Os que são vaso de desonra trazem vergonha e tropeço para a Igreja. Deus tenha misericórdia de nós.
3) Propor uma postura ministerial equilibrada
Dura coisa me pediste, diria o profeta Elias. Mas é possível e há exemplos os mais diversos Brasil afora. Infelizmente, são os maus exemplos que se sobressaem.
Indo adiante…
O capítulo dois da segunda carta de Paulo a Timóteo, nos versículos selecionados pelo comentarista, possuem uma riqueza impressionante de recomendações, as quais se fossem seguidas teríamos, de um lado igrejas fortes e sadias e lideranças equilibradas. Pretendemos analisar com nossos trinta leitores cada um destes versículos à medida que comentamos outros aspectos da lição:
1 – Tu, pois, meu filho, fortifica-te na graça que há em Cristo Jesus.
Relembramos aqui que Timóteo era filho na fé de Paulo, de quem tinha ouvido os rudimentos da doutrina de Cristo. Porém, o jovem obreiro deveria, por conta própria, buscar conhecer e se aprofundar em Cristo. Há obreiros que não ensinam, preferem subjugar seus aprendizes, de tal maneira que não tenham vida própria. Há ministérios e igrejas que todos os obreiros se vestem do mesmo jeito (até com cores semelhantes), só sorriem quando o líder ri, fazem cara de compenetrados ante suas palavras e são mantidos sob severa vigilância. Não são aprendizes, são robôs. Cristo nos chamou para a liberdade, não anulou nosso caráter, nossa extroversão, nossas características pessoais. Ele as converteu!
Soube de um caso verídico na lição passada em que determinado ministério fez uma classe única com o obreiro da congregação e repassou o comentário padrão para todos eles, com medo que os professores pudessem destoar do assunto ou que algum aluno fizesse um questionamento mais aprofundado. E a lição nem era tão crítica assim.
Outra questão colocada é que a palavra grega utilizada aqui é endinamoô, ser cheio de poder, dinamizar-se. A graça é dinâmica e poderosa, mas somente se nós nos dispormos a ela. Conheço obreiros que não estudam, mas querem ter uma boa palavra ao pregar, outros sequer leem a Bíblia. Outros não oram, nem buscam a presença de Deus. Não buscam ser cheios de graça e unção. E isto os torna opacos e frios.
2 – E o que de mim, entre muitas testemunhas, ouviste, confia-o a homens fiéis, que sejam idôneos para também ensinarem os outros.
Não crescemos quando apenas aprendemos, mas quando repassamos. Em hebraico, o verbo para aprender (lamad) é o mesmo para ensinar! Quando passamos adiante nosso conhecimento a tendência é que cresçamos intelectualmente muito mais. Há uma metáfora interessante sobre este assunto. Em Israel há o Monte Hermon, do qual brotam os pequenos filetes de água que originam a nascente do Jordão. A água passa adiante e enche o rio. Este, por sua vez, deságua no Mar da Galiléia. Que passa adiante para o Mar Morto. Este recebe as águas e se fecha sobre si mesmo. E morre! Há vida no Jordão, no Mar da Galiléia, mas no Mar Morto não.
A grandeza e a eficácia do pastorado de Paulo decorria entre outros fatores da disposição de levar Cristo a qualquer pessoa e não apenas pregar-lhe, como ensinar-lhe. Por outro lado, igrejas nascentes já tinham orgulho de seus mestres. Leiamos Atos 13:1: “E na igreja que estava em Antioquia havia alguns profetas e doutores, a saber: Barnabé e Simeão chamado Níger, e Lúcio, cireneu, e Manaém, que fora criado com Herodes o tetrarca, e Saulo.” Ou seja, uma igreja tão nova já podia contar com grandes sábios. E em nossas igrejas? Podemos enumerar os mestres?
3 – Sofre, pois, comigo, as aflições, como bom soldado de Jesus Cristo.
4 – Ninguém que milita se embaraça com negócio desta vida, a fim de agradar àquele que o alistou para a guerra.
5 – E, se alguém também milita, não é coroado se não militar legitimamente.
Nestes três versículos a linguagem é militar. As principais características do soldado: fidelidade, concentração, obediência e disposição para o sacrifício[1] devem ser encontradas no obreiro da obra do Senhor. O soldado pode estar aflito, torturado pela batalha, mas não pode se embaraçar com nada que não sua atividade. Tais embaraços podem vir de todos os lados e uma distração lhe custará a vida. Quantos grandes obreiros não se encontram prostrados por uma queda proporcionada por um momento de distração? São soldados embaraçados!
6 – O lavrador que trabalha deve ser o primeiro a gozar dos frutos.
Aqui Paulo fala entre outras coisas da remuneração do obreiro, nervo exposto em, praticamente, todas as igrejas. Em outra ocasião o apóstolo afirmou: Digno é o trabalhador do seu salário (I Timóteo 5:18). A questão é a seguinte:
1) A igreja se escandaliza quando o obreiro recebe uma remuneração por sua dedicação à congregação. Alega que deve ser feito por amor, etc, mas é um trabalho que exige atenção e desvelo. Via de regra, ele não consegue atender adequadamente, se não tem dedicação exclusiva. Então começam as cobranças…
2) Por outro lado, a direção da igreja nem sempre quer assistir todos os obreiros e se aproveita da disponibilidade de alguns para empurrar o problema com a barriga. O resultado é o mesmo.
O que deve ser feito é o provimento adequado de ajuda financeira para todos os obreiros com responsabilidade em congregações, para que estes possam se desdobrar e atender os trabalhos. Além do trabalho propriamente dito o obreiro deve visitar doentes, orar por presos, atender a festas como casamentos, aniversários, cultos de ações e graças, representar a congregação. Tudo que demanda esforço e tempo. E ainda cuidar financeiramente de sua própria família.
Clique aqui onde temos outro post especificamente sobre o assunto.
7 – Considera o que digo, porque o Senhor te dará entendimento em tudo.
8 – Lembra-te de que Jesus Cristo, que é da descendência de Davi, ressuscitou dos mortos, segundo o meu evangelho;
9 – pelo que sofro trabalhos e até prisões, como um malfeitor; mas a palavra de Deus não está presa.
O corpus da mensagem de Paulo é a ressurreição de Cristo. Se ele está vivo novamente, todas as coisas possuem um novo significado. Porém, Paulo não pode instruir Timóteo em tudo. Não obstante o valor de seu ensino, o obreiro teria muito o que aprender. Desde que não esquecesse as premissas, tudo bem.
10 – Portanto, tudo sofro por amor dos escolhidos, para que também eles alcancem a salvação que está em Cristo Jesus com glória eterna.
É notório o desdobramento de Paulo, para que todos chegassem a conhecer a verdade. Num só versículo ele fala em perigo oito vezes (II Coríntios 11:26). Mas ele sabia que podia fazer algo pelo reino de Deus. Costumo dizer que Paulo não tinha nenhuma das facilidades na área de comunicação que temos: rádio, TV, internet, som, microfone, carro, mas fez muito mais que a maioria de nós.
11 – Palavra fiel é esta: que, se morrermos com ele, também com ele viveremos;
12 – se sofrermos, também com ele reinaremos; se o negarmos, também ele nos negará;
13 – se formos infiéis, ele permanece fiel; não pode negar-se a si mesmo.
A glória moral do Evangelho é que quem sofre com Cristo, dividindo com ele a cruz, com ele irá repartir a glória. Não há nada comparado a isto.
14 – Traze estas coisas à memória, ordenando-lhes diante do Senhor que não tenham contendas de palavras, que para nada aproveitam e são para perversão dos ouvintes.
Não está interditado aqui o debate sadio e honesto, atividade a que o próprio Paulo se dedicou (Atos 17). O que Paulo adverte aqui é o debate estéril, também esse uma excelente distração maligna, para atrapalhar o soldado, lembram? O debate jactancioso deve ser evitado, bem como a discussão de futilidades e arrazoado carnal. O grego aqui usado é kenofonia, palavra vã, conversa fiada.
15 – Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade.
16 – Mas evita os falatórios profanos, porque produzirão maior impiedade.
Esta advertência é especial para nós, num tempo em que as pessoas buscam a aprovação do ministério, do pastor, mas não de Deus. É a velha história: estamos mais preocupados com o que as pessoas dizem de nós, quando deveríamos estar preocupados com o que Deus diz de nós! Esta é a razão para que tantos sejam reprovados perante o Justo Juiz.
Manejar a palavra da verdade é o grego orthotomounta, que ocorre apenas uma vez no NT, e significa cortar em linha reta, como um pedreiro corta uma pedra para encaixar num determinado local da parede com maestria, como alguém faz uma linha reta com o arado. Para ambas as atividades é necessária uma característica importante para o obreiro do Senhor: habilidade. Habilidade só vem com experiência e perícia. Infelizmente, é hábito de muitos a consulta da Bíblia na hora do culto, o empoeiramento do livro sagrado, quando deveria se objeto diário de estudo (Salmos 1:1).
O comentarista foi muito feliz aos caracterizar os obreiros aprovados.
1. Pregam e ensinam sem engano. Ou seja, não usam artifícios e enganações. Não escondem passagem que poderiam ferir o ego do ouvinte, não o poupam diante do pecado, no intuito de ganhar a audiência;
2. Pregam com pureza. Paulo pregava por amor a Cristo. Jesus era o seu alvo. Qual o nosso alvo? A glória do homem ou a glória de Deus? O crescimento numérico de nossa denominação ou a conversão de vidas preciosas?
3. Não buscam a glória de homens. Infelizmente, muitos hoje buscam sua própria glória. Querem ser idolatrados, se acham insubstituíveis e indispensáveis. Como já tem sua própria glória, não glorificam a Deus e não herdarão os Céus. Vamos ter tanta surpresa ao chegar lá e não encontrar pessoas que, pela aparência, deveriam ter chegado…!?
17 – E a palavra desses roerá como gangrena; entre os quais são Himeneu e Fileto;
18 – os quais se desviaram da verdade, dizendo que a ressurreição era já feita, e perverteram a fé de alguns.
Imagine um pastor pregando à congregação nominando pecadores? Certamente seria fortemente criticado, em especial nestes dias politicamente corretos. Mas Paulo não compactuava com o pecado e tinha transparência nos seus trabalhos. A base dos falsos mestres apresentados era negar a ressurreição. Este é um argumento utilizado nestes dois mil anos de Cristianismo. Mas os que conhecem a Cristo não tem dúvidas que ele está vivo novamente. Vivamos para agradá-lo!
[1] Barclay, William, Comentario al Nuevo Testamiento, CLIE