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A águia de Prometeu assombra o poder eclesiástico

Prometeu

Prometeu

Não sei, nobres 100 leitores, se vocês conhecem o mito de Prometeu. Vou tentar ajudar, fazendo um breve resumo.

Prometeu era um titã, da mitologia grega, filho de Jápeto. Na narrativa seu pecado foi roubar o fogo de Héstia e o dar aos mortais. Temendo que estes ficassem tão poderosos quanto os deuses, Zeus adotou como punição deixá-lo amarrado a uma rocha por toda a eternidade, enquanto uma grande águia comia seu fígado a cada dia – que crescia novamente no dia seguinte. Sem dúvida uma história criativa com uma poderosa metáfora.

Perguntará o nobre leitor: Ok? Mas o que tem a ver Prometeu e sua águia com o poder eclesiástico? Tudo e muito mais. Mas vamos por partes.

Norte do Brasil. Um nobre líder amigo relata seus problemas na cúpula de sua organização. Omissões, incoerências, brigas por poder. Outro, da região Sul, me aciona pelo WhattsApp, relatos semelhantes, pecados de sacristia, simonia, envolvimento político. Outro do Centro Oeste me envia até documentos, para que eu não pense que é um mero desabafo. As histórias se sobrepõem e coincidem umas com as outras. Só mudam os personagens. Brigas por poder, encobrimentos convenientes, ausência de projetos, prioridade para o engrandecimento pessoal, nepotismo. Muita gente correndo atrás do vento, expondo o fígado por nada.

O que está acontecendo?

Salvo raras exceções, nossa liderança eclesiástica está adoecida. O fogo mortal do narcisismo tem corroído a mente de muitos e se alastrou, expondo a igreja institucional às águias externas, enquanto vociferamos no endomarketing.

Agora mesmo, tendo em vistas a eleição de um orgão nacional assembleiano, não se fala em outra coisa em determinados círculos. Há grupos do WhattsApp nos quais 80 a 90% dos posts dizem respeito a divulgação dos candidatos, como se isso fosse a coisa mais indispensável para a denominação. E a águia olhando para o fígado…

Quantos líderes já não perderam suas famílias, amigos, parentes, amizades caras, em busca do poder passageiro? Quantas loucuras não foram feitas em busca de cargos e importância? Quem não conhece a história de um pastor que tentando priorizar a Obra perdeu sua família? Mas, pare! Será que era a obra ou a sensação de indispensabilidade que faz muitos de nós cometer erros gravíssimos em nome de Deus? A águia não perde tempo. Devora o mais precioso e vital e não se sacia.

Voltava de Natal, após rodar 300km até minha casa. Pensava num compromisso assumido com a juventude de uma de nossas congregações. Mal cheguei em casa, engoli o jantar e corri mais 20km para cumprir a agenda. Apesar do meu cansaço, o trabalho fluiu dentro do esperado. Por misericórdia de Deus fomos abençoados com sua Palavra. Ao final o obreiro da congregação me chama num canto: “Sábado é meu aniversário. Me honre!”. Devolvi, incrédulo: “Prezado, dirigi, agora, por 320km, para estar em sua igreja. Estou extremamente exausto e mal comi ou vi minha família. Gastei tempo preparando o esqueleto do sermão, como é meu costume. Isso não é honra?”. Ele sorriu amarelo e pediu desculpas, com o fígado exposto.

Lideranças menores brigam por espaço para seus orgãos. E o fazem dizendo que estão trabalhando para a glória de Deus. Como assim? Chegamos ao desplante de não colaborar ou sabotar o trabalho de um colega na mesma congregação e o fazemos para a glória de Deus? O Altíssimo anda bem longe disso. O fígado está exposto, a águia o come.

O problema é: conquanto o fígado renasça no outro dia, não importa o sacrifício que será feito hoje. É um fascínio perigoso. Converso com um amigo pastor do Sudeste: “Será que Deus vai fazer alguma coisa? Tomar alguma providência grande e estrondosa nesse sistema?” Ele me confidencia: “Deus não vai fazer nada, já entregou essa engrenagem à própria sorte. Se algum arrependimento houver mais adiante, o destino pode ser mudado”. Do contrário, muitos estarão no inferno, onde o bicho que come, não somente o fígado, nunca morre.

Caminhando para o fim…

A águia come o fígado do Brasil, mergulhado na corrupção histórica. A liderança jogou a igreja institucional na linha de alcance. O que seria uma organização isenta e alheia tornou-se partícipe e corresponsável da lambança. Almas gemem mordidas no fígado pelo pecado e acordam no outro dia para pecar ainda mais. O escárnio contra as instituições religiosas é generalizado. Ninguém nem se dá conta dos outros que vão, sem reflexão, para as correntes da incredulidade, observando como líderes expõem gratuitamente suas entranhas para as águias.

Cada um esteja seguro em seu próprio ânimo e que a águia não coma nosso fígado.

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