Meus dez leitores sabem que boa parte das Convenções Estaduais brasileiras apóia a reeleição do Pr. José Wellington. Não vou me alongar em razões pontuais, não tenho interesse. Minha preocupação é estratégica, portanto, de longo prazo. Desde já tenham em mente que eu não votaria em nenhum dos três candidatos. Inclusive, este post não é, sob nenhum prisma, uma defesa de alguma das candidaturas postas. Quem me lê sabe o que defendo.
Vamos começar pelo essencial. O Pr. José Wellington fará 79 anos este ano. Tem uma folha de serviços prestados à denominação. Fez questão, aliás, de exaltar sua trajetória lançando um livro. Mas, convenhamos, mesmo com sua argúcia é alguém velho demais para um cargo desta natureza. O que teria iniciado como fator de aglutinação vinte e cinco anos atrás, agora, mais dia, menos dia, é um fardo. Vez por outra invoco aqui Ted Turner. Anos atrás o board de sua CNN votou por sua ausência do comando da empresa, permaneceria apenas como presidente do conselho de administração. Ele relutou, pensou estar sendo traído, mas, num rasgo de luz, acatou a decisão. Um ano depois sua empresa havia dobrado de tamanho! É preciso perceber a hora de parar. É clara como a luz da aurora que essa ocasião já passou para o atual presidente.
Em muitos casos desta natureza, e os exemplos estão aí pelo Brasil afora (e na própria Bíblia: Eli, Davi, Samuel, etc), um líder idoso não lidera mais nada. Seus filhos e família apenas o conduzem adiante como um estandarte de uma era em ocaso. Não é raro o caso em que a família se assusta com a possibilidade de perda do poder e do dinheiro. A estrutura de funcionamento das AD no Brasil dá sua contribuição. Se de um lado o cargo é vitalício, do outro não há mecanismos eficientes de garantia do padrão de vida do auge dos presidentes e de sua família, ou, ao menos, de algo digno e confortável. Porém, a igreja não pode ficar à mercê de nossas deficiências estruturais. Até quando viveremos apenas em torno da benesse? Até quando a Igreja será o INSS das famílias de pastores jubilados*? E se um pastor presidente adoecer irreversivelmente? Ou enlouquecer? Donde concluímos que a reeleição interessa num primeiro momento à própria família.
É notório que seus filhos, com o apoio maciço da igreja no Belenzinho/SP tem usufruído das vantagens dele ser o presidente. Não obstante as qualificações dos mesmos, salta aos olhos, por exemplo, a condução de um de seus filhos à presidência do Conselho Administrativo da CPAD. Quando o próprio Ronaldo Rodrigues, que já era diretor executivo desde 1993, foi indicado pelo atual presidente. Não sei se serei compreendido, mas a Igreja não é a família, é justo o contrário. Aliás, defendo que seja o mais despersonalizada possível. Mormente, quando acontece o contrário, a tendência é que o interesse particular de alguém se sobreponha aos interesses coletivos. Parece ser justo isso o que acontece em nossos dias.
Outros grandes interessados na reeleição do atual presidente são os cabeças das Convenções. E a razão é simples: sua apatia para atacar problemas estruturais das Convenções Estaduais. Nepotismo, personalismo, desvios financeiros e doutrinários, (des)governança corporativa, desunião são temas aos quais ele foge ou dá de ombros. A CGADB é uma instituição política, que prioriza sua autopreservação. A tese influente é a dos feudos. Cada Convenção é um, em particular. Se a CGADB não mete a colher, então se deve preservar a atual gestão. Não que uma eventual eleição de Samuel Câmara possa mudar alguma coisa. Não há a mínima possibilidade. O máximo que pode acontecer é ele endurecer as regras do jogo. Aí cada um dos jogadores abandona o campo, enfraquecendo a Convenção Geral. A rigor nenhuma Convenção estadual é obrigada a permanecer ligada à CGADB, seria uma debandada geral. Que o digam as Convenções genéricas.
Por falar nelas, são outras grandes interessadas, ainda que indiretamente, na reeleição do atual presidente. Elas podem continuar utilizando o nome Assembleia de Deus, cuja patente está sob a guarda da CGADB, e não serão importunadas. O que se faz Brasil afora é ou usar o nome como está ou colocar um aposto ao bel prazer do fundador e acabou o problema. Com a vantagem de se herdar o peso histórico da denominação. Portanto, por pura inércia, qualquer um pode abrir uma igreja e colocar o nome Assembleia de Deus!
Voltando ao assunto das Convenções há entraves impossíveis, senão com muita oração e quebrantamento. Quando teríamos uma Convenção por Estado? Praticamente, nunca! Como eu sou otimista incorrigível, creio que é possível. Mas assim como na política secular, ter duas ou três Convenções num Estado ajuda a certos projetos de poder. Enfraquece a oposição, turva as propostas, quebra hegemonias e dá insegurança ao processo. Num ambiente desses é melhor deixar como está. Entenderam? A população votou em Dilma nesse raciocínio.
Hoje não há plano estratégico nacional para a denominação**. Estamos à reboque das grandes transformações de nosso tempo. Apesar de sermos a maior denominação brasileira não temos a organização mínima para fazer um evento. Até mesmo a eleição e a AGO padecem desse mal, que o digam os inúmeros problemas relatados nos blogs evangélicos assembleianos. A força motriz da Igreja que é a evangelização teve um plano nacional na Década da Colheita em 1990! A CGADB já deveria estar se mexendo há cinco anos para alfabetizar na língua inglesa visando a Copa e outros eventos de grande porte que acontecerão no País, mas esta tarefa está (se está…) a cargo das igrejas. O papel de supervisão e coordenação se perdeu há muito tempo.
Oportunamente, retornaremos a este assunto.
* Nas empresas seculares se faz um plano se aposentadoria e/ou pensão e a contribuição mensal vai financiar a família no futuro, desencargando a instituição.
** Há uma tal Comissão de Planos e Estratégias de Evangelismo e Discipulado, que utiliza dados de 1993!?