A Palavra em nosso meio
Não deixa de surpreender quando, em muitos temas, somos levados pelas paixões das ideologias ou das preferências pessoais. Nas redes sociais, isso se faz evidente com comentários que refletem a postura “publico isso porque esse autor resume exatamente o que eu penso”. Ou um outro exemplo no curioso comentário de uma visita em nossa igreja, “quis vir aqui porque ouvi dizer que pregam aquilo em que eu acredito”. Sei não, será que deveria ser assim mesmo? Onde está o contraditório, o desafio, o crescimento que vem do saudável confronto de minhas confortáveis, mas talvez equivocadas posições?
Apliquemos isso por um momento em nossa relação com as Escrituras. Seria uma tragédia aproximar-me da Palavra imaginando nela encontrar aquilo que “eu já acredito”, ou limitando minha exploração às partes que convenientemente parecem se encaixar nas opções que já fiz de antemão.
Por isso, entre outras razões, há uma equipe global no ministério da IFES (International Fellowship of Evangelical Students, a comunidade mundial à qual a ABU no Brasil é filiada) responsável nos últimos anos em trabalhar para o fortalecimento do que chamamos “Compromisso com as Escrituras”1. Essa equipe (cinco pessoas: da Alemanha, Malásia, EUA, Gana e o servidor que lhes escreve aqui do Brasil) preparou um breve recurso para ajudar os movimentos estudantis de todo o mundo a pensar alguns aspectos da relação com a Palavra e a avaliar como manejam as Escrituras em sua vida e missão.
O resultado foi o pequeno livro “A Palavra em nosso meio”2, lançado em inglês, francês e espanhol no mês de julho. Trata-se de um recurso para que possamos cultivar uma visão clara da importância das Escrituras em tudo o que somos e fazemos. Em palavras simples, renovar um compromisso com as Escrituras que implique em amar, estudar, viver e compartilhar a Palavra de Deus.
Há duas partes, um guia para cultivar alguns aspectos fundamentais e uma ferramenta para refletir sobre o impacto da Palavra de Deus no nosso meio. Compartilho aqui brevemente seis áreas mencionadas do livreto, que julgamos ser importantes nesses processos de avaliação e reconsideração, caso necessário, do nosso manejo da Palavra.
1. Aprofundar nossas convicções sobre a natureza e o propósito das Escrituras
A resposta sobre a pergunta “qual é a natureza e o propósito das Escrituras?” muitas vezes determinará como nos relacionamos com a Palavra. Se cremos que nela há autoridade para as situações de nosso cotidiano e se reconhecemos que através dela nos encontramos com a pessoa de Jesus Cristo, então nossa atitude será diferente. Abrir a Bíblia será como entrar em uma sala acolhedora para sentar-nos junto com aquele que amorosamente transforma a nossa vida.
2. Cultivar uma atitude de amor, expectativa e obediência à Palavra de Deus
Mais importante que métodos é a nossa atitude diante da Palavra. Não como um livro de regras, não como eco de nossos pensamentos (uma tentação para os religiosos), não como um manual de respostas fáceis para todos os nossos problemas. Nossa atitude deve ter mais daquele profundo amor pelo Salvador que cresce através da Palavra, que nos faz abrir nosso coração, nossa vida, para que sejamos obedientes àquele que é Senhor.
3. Modelar um estilo de vida de compromisso com as Escrituras
O que descobrimos na Palavra, sabemos aterrissá-lo, tanto em um nível pessoal como comunitário? Precisamos sempre revisar juntos como é nossa relação com Deus através de sua Palavra. É preciso cuidar também para que haja um interesse em responder à Palavra, em pelo menos tentar viver essas verdades, pessoalmente e também em comunidade.
4. Confiar no impacto da Palavra de Deus na evangelização
Poucas coisas são mais especiais do que ver alguém conhecer a Jesus através das Escrituras. Não porque outro lhe convenceu, mas porque descobriu por si próprio essa vida abundante no Cristo revelado pela Palavra. Claro, é preciso um ambiente seguro, um espaço para perguntas honestas, um acolhimento das dúvidas sinceras, das opiniões e questões que buscam a verdade. Precisamos ser mais criativos e dispostos a abrir esses ambientes e espaços onde se deem esses encontros.
5. Alimentar boas práticas no compromisso com as Escrituras
Há que saber conectar-se com coração e mente, há que saber interpretar de maneira adequada, contextual, pertinente, que seja fiel tanto às Escrituras como ciente do contexto onde a Palavra é lida, entendida e obedecida. Para isso é legítimo perguntar como estamos nos capacitando e também como estamos fomentando os bons modelos e práticas em nosso meio. Assim, revisar o que for preciso e encorajar o que deve continuar se aprofundando.
6. Enfrentar biblicamente os desafios de nosso mundo
Se a Bíblia é Palavra de Deus, e se Deus é o Criador, Redentor e Senhor de todo o universo, então é claro que sua Palavra traz implicações para tudo na vida, para cada esfera da ação e da vida humana no mundo. Quando participamos das conversas que ocorrem em nosso redor, devemos estar atentos para escutar bem, e para saber conectar, construir as pontes entre as Escrituras e cada aspecto da vida humana. Não é o caso de crer em respostas superficiais e simplistas, mas o de entender que a própria Palavra de Deus trará novas perguntas a agendas que se discutem hoje em dia.
Em cada uma dessas seis áreas, a busca das respostas e das conexões adequadas sempre será melhor se for levada adiante com humildade, na dependência do Espírito e em processos comunitários. Devo me permitir ser surpreendido e desafiado pelas Escrituras. Nada de só querer que elas me digam o que eu já queria ouvir. Só assim a Palavra pode tornar-se viva e eficaz para provocar em nós e em nosso entorno as transformações que vêm diretamente da agenda de Deus para nós e para o mundo.
Boa leitura e boa aterrisagem!
Notas:
1. Em inglês: “Scritpture Engagement Team”.
2. Você pode baixar a edição em inglês “The Word Among Us” aqui; a edição em espanhol “La Palabra en Medio Nuestro” aqui e a edição em francês “La Parole au Centre” aqui.
Pescado em Ultimato
Olá pastor Daladier,
Saudações fraternais na paz de nosso Senhor.
Uma amiga da Alemanha, na verdade quem inclusive liderou esse processo da preparação e produção desse recurso (“A palavra em nosso meio”) através de uma equipe onde eu tive o privilégio de servir, me escreveu ontem porque ela encontrou esse texto em seu blog, apesar de não ter conseguido lê-lo por estar em português. Esse é um bom sinal da importância de ministérios na web como o vosso blog, porque alcançam e abençoam numa dimensão maior do que podemos imaginar.
Ela me pediu para checar se o texto transmitia bem a ideia do recurso que publicamos e eu a tranquilizei esclarecendo que na verdade se trata de um artigo que eu mesmo escrevi para o portal Ultimato. Daí eu pude observar que apesar do senhor mencionar a fonte (o portal da Ultimato), creio que se cortou a parte em que menciona em que eu fui o servidor quem escreveu esse texto. Certamente foi uma omissão não intencional, daí eu tomo a liberdade de escrever-lhe para pedir-lhe o favor que inclua em vosso blog, abaixo do texto publicado, a menção de quem é o autor do texto.
Muito obrigado, querido irmão, e oro para que vosso ministério continue abençoando a muitos tanto no mundo virtual como no mundo real.
Um abraço fraterno, em Cristo,
Ricardo Wesley M. Borges
Prezado Pr Ricardo Wesley,
Por descuido deste editor o blog deixou de referenciá-lo no artigo republicado de Ultimato, conforme acusado em seu comentário.
Porém, a informação já foi incluída. Fique à vontade para retornar se não foi dado o destaque adequado.
Que Deus continue o abençoando ricamente!
Abração!
Daladier Lima