Você prega a Palavra de Deus, suponho eu. Por que suponho? Muitas vezes pensamos que estamos pregando a Bíblia quando, na verdade, estamos falando de escolas de pensamento (calvinismo, arminianismo, etc), credo da denominação (usos, costumes, manias pessoais de lideranças), inferências pessoais ou, simplesmente, desabafando no púlpito. É uma infeliz realidade, mas é o que temos não poucas vezes.
Mas supondo que você esteja pregando, de fato, a Palavra de Deus, o quanto ela pode ser verificada? Em outras palavras, a essência do que dizes é perceptível para o ouvinte? Você diz, por exemplo, que Jesus salva, mas as almas não aparecem. De fato, quem salva é Jesus, cabe a você pregar, mas as conversões não seriam uma consequência direta de sua pregação? Onde está o “como ouvirão se não há quem pregue”?
Você diz, noutras ocasiões, que Jesus cura. Mas quantos pelos quais você orou foram curados? Ou você nunca orou por alguém doente? Lembre que outras necessidades podem ser satisfeitas em oração: Desemprego, violência, aprovações em concursos, consolo por mortes, problemas conjugais e uma gama enorme de outros problemas. Todos podem ser conhecidos diante de Deus (1 Pe 5:7). Mas você orou e algo aconteceu? Sua oração mudou a realidade do ouvinte?
Veja a viúva de Sarepta! Ela aparece de forma anônima, portanto, não era alguém importante para a maioria. Mas o profeta se esforçou para que aquilo que ele ensinava se tornasse realidade na vida daquela triste mulher. Seu único filho faleceu, após adoecer mortalmente. O profeta não deu de ombros, mas, dirigido por Deus, orou pela criança e ela ressuscitou! Isso se chama empatia.
A mulher fez duas exclamações profundas. A primeira quando a criança morreu: “Vieste aqui para trazer à memória a minha iniquidade” (1 Rs 17:18). Elias não era um mero hospedeiro, estava preocupado com a remissão da anfitriã. Profeta que se preze não quer ser agradável, mas quer ser um instrumento da vontade de Deus, seja ela boa pra quem ouve ou não. A isto chamamos: sinceridade!
Já quando seu filho ressuscitou, disse ao profeta: “Agora sei que a palavra de Deus não tua boca é verdade!”. A palavra havia transposto um umbral decisivo, tornara-se real na vida da viúva! Grande parte da influência da Igreja evangélica foi construída dessa forma. Pela boca de pessoas humildes e sem muita tergiversação saiu da mera teoria para a prática. Já não podia ser ignorada!
E ainda nem falamos da questão ética envolvida no ensino da Palavra de Deus. Pastores há, só para falar da maior ordem de grandeza em nossos templos, cujas palavras não valem uma prata furada, como se diz aqui no Nordeste. A prática diária está em total dissonância com aquilo que ensinam. E não é apenas uma questão de tato pessoal, de perseguir um desafeto, agir com truculência, de pregar humildade e ser soberbo. Mas de falhas de caráter muito mais sérias, que deixam em pânico qualquer observador.
Escrevo, com tremor, que muitos daqueles que se dizem servos do Senhor serão condenados no Juízo Final por sua contradição. Deus odeia quem coxeia entre dois pensamentos!