A Natureza dos Anjos – A Beleza do Mundo Espiritual
Subsídio para a lição 02 - A Natureza dos Anjos – A Beleza do Mundo Espiritual. Quem são os anjos? Que fazem? Onde habitam?
Prezados leitores, seguimos agora para a segunda lição do trimestre que poderá ser complementada com mais informações a qualquer momento. Ela tem por título: A Natureza dos Anjos – A Beleza do Mundo Espiritual. Tratará de uma matéria dos seminários teológicos denominada angelologia, ou estudo dos anjos.
Texto Áureo
“Bendizei ao SENHOR, anjos seus, magníficos em poder, que cumpris as suas ordens, obedecendo à voz da sua palavra.” (Salmos 103.20)
Verdade Prática
Os anjos são seres reais, espirituais e celestiais a serviço de Deus e enviados para ajudar os que vão herdar a salvação.
Observe que anjos não apenas atuam a respeito dos que há de herdar a salvação. Eles estão em constante trabalho no mundo obedecendo às ordens de Deus, independente de qual seja o objeto de sua ação. Um anjo prenderá o Diabo, por exemplo (Apocalipse 20:1). Outro destruiu 185.000 assírios (II Reis 19:35). Estavam em plena atividade quando Deus criou a Terra (Jó 38:7) e estarão em plena atividade nos eventos escatológicos. Portanto, não necessariamente a respeito dos que irão herdar a salvação.
Leitura Diária
Leitura Bíblica em Classe
Lucas 1:26-35
26 – E, no sexto mês, foi o anjo Gabriel enviado por Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré,
27 – a uma virgem desposada com um varão cujo nome era José, da casa de Davi; e o nome da virgem era Maria.
28 – E, entrando o anjo onde ela estava, disse: Salve, agraciada; o Senhor é contigo; bendita és tu entre as mulheres.
29 – E, vendo-o ela, turbou-se muito com aquelas palavras e considerava que saudação seria esta.
30 – Disse-lhe, então, o anjo: Maria, não temas, porque achaste graça diante de Deus,
31 – E eis que em teu ventre conceberás, e darás à luz um filho, e pôr-lhe-ás o nome de Jesus.
32 – Este será grande e será chamado Filho do Altíssimo; e o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai,
33 – e reinará eternamente na casa de Jacó, e o seu Reino não terá fim.
34 – E disse Maria ao anjo: Como se fará isso, visto que não conheço varão?
35 – E, respondendo o anjo, disse-lhe: Descerá sobre ti o Espírito Santo, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; pelo que também o Santo, que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus
Objetivo geral
Mostrar os anjos como seres espirituais reais, cujo serviço glorifica a Deus e auxilia seu povo.
Objetivos específicos
Abaixo, os objetivos específicos referem-se ao que o professor deve atingir em cada tópico. Por exemplo, o objetivo I refere-se ao tópico I com os seus respectivos sub-tópicos.
- Expor a identidade dos anjos;
- Explicar a natureza e o ofício dos anjos;
- Elencar a ordem hierárquica dos anjos.
- Destacar a relação de Jesus com os anjos a partir do Arcanjo Miguel.
Quem são os anjos?
Do hebraico malakh e do grego anguelós (observe que JAMAIS o G tem som de J, como em gelo, sempre com o G de gato):
Ocorre 213 vezes no Velho Testamento e 176 no Novo. Os termos em hebraico e grego podem se referir a:
- Anjos em geral, é a aplicação predominante (Gênesis 32:1)
- Demônios, direta ou figuradamente (Salmos 78:49; Provérbios 16:14)
- Teofanias* (Gênesis 21:17; 31:11; Êxodo 14:19)
- Pessoas, diretamente ou por titularidade (Mateus 11:10; Lucas 7:24, 9:52, Apocalipse 2:1)
- Sacerdotes (Malaquias 2:7)
- Profetas (Isaías 42:19; 44:26; II Crônicas 36:15,16; Malaquias 3:1)
O termo anjo significa um enviado, um mensageiro divino. Com uma ordem (I Crônicas 21:15,16), uma interpretação da profecia (Daniel 9:23) ou, simplesmente, para guardar (Salmos 34:7). Principais características dos anjos:
- São criaturas de Deus – São as primícias da Criação e foram criados num tempo remoto
- São criaturas espirituais – Portanto, não limitados no tempo e no espaço
- Foram criados em grande multidão – Milhares, talvez milhões ou bilhões (Hebreus 12:22; Apocalipse 5:11)
- São assexuados – Nem se casam, nem se dão em casamento (Mateus 22:30; Marcos 12:25)
- Não são eternos – Eternidade pressupõe sem início, nem fim de dias
- São imortais – Assim como os homens, não morrem jamais (Lucas 20:36)
- São extremamente sábios (II Samuel 14:20) – Mas sua sabedoria é intuitiva e imediata. Eles se comunicam, por exemplo, em qualquer idioma
- São extremamente poderosos (II Reis 19:35; Mateus 28:2) – Este poder decorre do empoderamento da ordem divina
- Possuem livre arbítrio – Por isso podem pecar (Jó 4:18)
- Foram criados numa santidade estacionária – Ou seja, não podem melhorar, nem piorar, a priori, em santidade, mas em sabedoria
Na Bíblia somente dois anjos são mencionados pelo nome: Miguel (Dn 10:13,21, 12:1; Jd 1:9, Ap 12:7) e Gabriel (Dn 8:16, 9:21; Lc 1:19,26)
Anjos no Judaísmo
No Judaísmo os anjos são intermediários entre Deus e os homens no Tribunal celeste e possuem dez níveis hierárquicos. Há os anjos bons e os maus e cada um de nós os temos. A ideia reflete o que está na imagem abaixo. De um lado um anjo bom nos aconselha para bons comportamentos, de outro anjos maus nos inclinam para o mal. Estes anjos estariam sempre ao nosso lado – do lado direito, os anjos da bondade; e do lado esquerdo, os chamados anjos da severidade.
Para o judaísmo Satanás não é o querubim caído, mas um promotor, que nos acusa no tribunal mencionado, nos testando quanto à obediência a Deus. Para isso distorcem o diálogo de Deus com o Diabo no livro de Jó (Jó 1:6,7ss) e o diálogo de Zacarias 3:1. Inclusive, há anjos acusadores e defensores, tanto de pessoas quanto de países e lugares. Raciocinam que como um anjo só faz a vontade de Deus, ele foi posto como acusador por essa vontade. E até se alegra quando os servos de Deus são aprovados nas tentações. Leiam esse excerto do Coisas Judaicas[1]:
O único anjo que aparentemente tem diversas funções é o Yetser Hará, pois o Talmud nos conta que o Yetser Hará (anjo que nos tenta a pecar), o Satan (anjo que nos acusa no tribunal celestial) e o Malach Hamavet (anjo que aplica o castigo – anjo da morte) são o mesmo anjo. O Rabi Tsadok HaCohen Melublin nos explica que o pecado/a falta (Yetser Hará), a acusação (Satan) e o castigo (Malach Hamavet) são a mesma coisa, têm a mesma função, porém, em mundos diferentes. Em nosso mundo a única coisa que percebemos é o castigo. No mundo intermediário espiritual sentimos a falta, o estrago de nossos pecados e num nível ainda mais alto “do lado de Hashem” não falta nada, mas chega até lá a acusação.
E existem os demônios, seres considerados incompletos, que foram criados nos últimos instantes do sexto dia. Segundo os ensinamentos do Judaísmo procriam, precisam de comida e morrem.
Outro conceito interessante para nosso aprendizado é que o Judaísmo compreende que nossas orações e boas obras são levadas à presença de Deus pelos anjos, mas não todos, somente aqueles criados no 5º dia. E os há daqueles que trazem as coisas do Céu para a Terra, estes foram criados no 2º dia. Os tratados rabínicos ensinam, por fim, que o estudo da Torá cria anjos ao nosso redor.
Anjos no Catolicismo
O Catolicismo Romano afirma que os anjos foram criados no primeiro dia. São divididos em três hierarquias e, cada uma delas, em três coros. A primeira hierarquia é a dos que contemplam a Deus: Serafins, Querubins e Tronos. A Segunda ocupa-se do governo do mundo: Dominações, Virtudes e Potestades. A terceira é encarregada de executar as ordens divinas: Principados, Arcanjos e Anjos.
Esta angelologia está ancorada nos escritos de Tomás de Aquino no seu livro Suma Teológica, escrito entre 1265 e 1273. Além de classificá-los em três esferas, o teólogo também determinou as características e funções de cada um dos coros. Sua hierarquia estaria dividida assim:
- Primeira esfera
- Serafins, anjos que guardam o trono de Deus
- Querubins
- Tronos, que seriam encarregados de encaminhar missões aos níveis inferiores
- Segunda esfera
- Dominações, fazem com que o Universo funcione em harmonia
- Virtudes, auxiliam na execução das tarefas divinas, operando milagres, por exemplo
- Potestades, cuidam dos quatro elementos (ar, fogo, terra e água)
- Terceira esfera
- Principados, zelam pelos municípios, reinos, países e continentes
- Arcanjos, encarregam-se de missões extraordinárias e revelações acima da compreensão humana
- Anjos da guarda
A Igreja Católica crê que os anjos intercedem por nós. E devem ser venerados.
Anjos no Espiritismo
No Espiritismo não existem anjos. Eles são os espíritos humanos que chegaram ao nível mais elevado de perfeição capaz ao espírito humano.
O que os anjos fazem?
As Escrituras as atividades angelicais são as mais diferenciadas possíveis. Se possível, poderíamos olhar desde o trono de Deus, o lugar mais elevado do Universo, até a Terra e vê-los em constante atividade. Na Bíblia anjos:
- Trazem mensagens ao mundo dos homens (Lc 1:11-13,18,19,28ss, 2:10; At 10:3)
- Destroem cidades ímpias (Gn 19ss; 2 Cr 32:21)
- Socorrem pessoas (Gn 21:17; At 5:19)
- Guardam pessoas em seus caminhos e as guiam (Gn 24:7,40, 32:1, 48:16; Sl 91:11; Dn 3:28, 6:22)
- Defendem o povo de Deus (Êx 14:19, 23:23; Nm 20:16)
- Louvam e bendizem a Deus (Sl 103:20)
- Trazem interpretações de eventos e textos (Dn 9:23,24; Zc 4:4ss)
- Interferem em decisões (Mt 1:20; 2:13, 19)
- Levavam os mortos justos para o seio de Abraão (Lc 16:22)
- Executam os juízos de Deus (Ap 8:6; 15:1)
- Guardam lugares sob determinação divina (Gn 3:22)
Anjos no ministério de Jesus
Os anjos foram parte ativa no ministério de Jesus:
- O anjo Gabriel anunciou o nascimento do precursor de Jesus: João Batista (Lucas 1:11-13). Bom lembrar que Isabel era estéril, e tanto ela quanto seu marido eram idosos, então temos milagres cumulados
- O mesmo Gabriel visitou Maria e anunciou o nascimento virginal de Jesus de seu ventre (Lucas 1:26-38) e lhe anunciou o nome (Lucas 2:21)
- Um anjo convenceu José a não fugir ao saber que Maria, com quem estava desposado, estava grávida (Mateus 1:20,24)
- Anjos anunciaram aos pastores o nascimento do Messias (Lucas 2:9,10)
- Outra multidão de maviosos anjos se seguiu a esta proclamação (Lucas 2:13,14)
- Um anjo orientou a família de Jesus a fugir para o Egito e, assim, livrou o recém nascido das mãos de Herodes (Mateus 2:13)
- Um anjo indicou que já era o tempo de retornar a Israel, após a fuga para o Egito (Mateus 2:19)
- Um grupo de anjos serviu a Jesus após a tentação, onde certamente estava faminto e exausto (Mateus 4:11; Marcos 1:13)
- Um anjo consolou Jesus em agonia no Getsêmani (Lucas 22:43)
- Um anjo removeu a pedra do sepulcro com grande poder e glória (Mateus 28:2)
- Este mesmo anjo recepcionou as mulheres em aflição a respeito do corpo de Jesus (Mateus 28:5)
- Dois anjos estiveram no sepulcro após a ressurreição de Jesus, sentados no lugar onde jazia o Mestre, um na cabeceira outros aos pés (João 20:12)
- Após sua assunção aos Céus, seus discípulos receberam mensagens de conforto de dois anjos (Atos 1:10)
As hostes angelicais
O terceiro ponto da lição oferece uma grande dificuldade. O próprio comentarista reconhece que resultou sem sucesso as tentativas de hierarquizar os anjos, tanto pelo desconhecimento amiúde dos detalhes, quanto por dificuldades do próprio texto.
Vejamos, por exemplo, a classificação clássica entre os evangélicos: anjo, arcanjo, querubim, serafim. Há até um hino conhecido que dá conta de parte desta hierarquia:
Maior que o animal, temos o homem
Maior que o homem, temos o anjo
Maior que o anjo, arcanjo e querubim
Maior que o nosso Deus, não há ninguém
O senso comum indicaria que um serafim é maior que o querubim, que um querubim é maior que o arcanjo e este último, maior que o anjo.
Mas há algumas dificuldades aqui. Se um querubim é mais poderoso que um arcanjo, por que um arcanjo foi enviado a guerrear contra o Diabo, ainda que caído um querubim (Jd 1:9)? E por que o mesmo será preso por um simples anjo (Ap 20:1)? Evidentemente, algumas explicações são fornecidas, nenhuma delas satisfatória.
Uns pensam, por exemplo, que são todos anjos. De acordo com sua área ou local de atuação teríamos as diversas denominações. Mas aí temos um outro problema. É que existem ordens espirituais além delas, quais sejam: Tronos, potestades, dominações, principados (Cl 1:16), anciãos e seres viventes (Ap 5:14).
Conclusão
Nos abstivemos de comentar o último ponto. Ele resta elucidado e não há necessidade de maiores comentários. Este assunto é muito vasto e temos muito a esclarecer, infelizmente, há coisas que Deus não nos quis revelar e outras que as seitas e heresias inventaram e infectou o imaginário popular. É o caso, por exemplo, de anjos sempre com asas. Na Bíblia só se fala de asas para querubins (Êx 25:20) e serafins (Is 6:2). O que dizer de anjos cupidos? Com auréolas? Com harpas nas mãos? A Bíblia nada fala sobre estes assuntos!
Sigamos, então, com o aprendizado dentro das possibilidades, orando a Deus, pedindo misericórdia e graça para compreender este maravilhoso assunto.
Ao que é seja a glória!
* Teofanias são revelações de Deus no Antigo Testamento, geralmente, referenciadas como Anjo do Senhor ou Anjo da sua presença, na maioria das vezes referem-se ao próprio Jesus (Juízes 2:1). Ao contrário dos demais anjos, este recebe a adoração (Êxodo 3:2ss)
[1] https://www.coisasjudaicas.com/
Excelente esboço meu Caro Pastor! Conteúdo de riquíssima qualidade.
Obrigado, meu nobre. Também aprendi muito!
Enriquecedor. Muito bom!
Parabéns, pastor. Obg.