A história de Naamã e suas lições para hoje!
Quais as lições da história de Naamã para nossos dias? Quais os meandros nos quais ela se desenrolou? Vem comigo!
Quem era Naamã?
Era um comandante do exército. No original hebraico sar-tsêvá שַׂר־צְבָ֨א (2Rs 5:1). Tsavaôt é plural de tsevá. Dentre suas atribuições, uma delas consistia em apoiar o velho rei da Síria na sua adoração diante de Rimon (2 Rs 5:18). Entretanto, era um homem leproso. A lepra, a princípio, era uma pequena ferida que depois se estendia e contaminava todas as extremidades do corpo. Pouco a pouco os dias iam definhando.
Enquanto a lepra tomava o corpo, o leproso era afastado da comunidade de qualquer cidade. E era obrigado diante da aproximação de pessoas a gritar: “Leproso! Leproso!”. Certamente, era isso que temia Naamã. Em algum tempo, talvez, perderia o cargo, a família e o convívio social.
Onde morava Naamã?
Naamã era sírio. Não confundir com Assíria e, pois, assírios, que era um país mais a nordeste de Israel. Os sírios também eram chamados de siros. A Síria dos tempos bíblicos era bem menor que a atual. Ocupava o norte de Israel. Hoje faz fronteira com a Turquia, o Iraque, Israel e Jordânia. Algumas das cidades mais antigas estão nesse pequeno pedaço de terra. Damasco, a capital, é tida como a cidade mais antiga continuamente habitada do Oriente Médio.
O que aconteceu para que Naamã fosse parar em Israel?
Uma adolescente foi apreendida no território israelita e posta como serva na casa de Naamã. Sabendo da doença de seu senhor, lhe fez informar que podia ser curado em Israel. Embotado pelo cargo que ocupava ele se dirigiu a Jorão, o rei. Num primeiro momento o rei imagina que Naamã buscava razões para guerrear contra Israel e, apavorado, rasgou as suas vestes, até que Eliseu soube da história.
Ele se dirigiu ao rei nos seguintes termos: “Por que rasgaste as tuas vestes? Deixa-o vir a mim, e saberá que há profeta em Israel” (2 Rs 5:8). Naamã pôs-se a caminho para a casa de Eliseu, enviado por Jorão.
Toda sua comitiva foi surpreendida com uma mensagem curta e grossa, dada através do servo Geazi: “Vai, e lava-te sete vezes no Jordão, e a tua carne será curada e ficarás purificado” (2Rs 5:10). Ué, pensou Naamã, eu imaginava que ele viria até aqui, faria uma oração enquanto estendia suas mãos aos Céus e, em seguida, imporia as mãos sobre a ferida para que sarasse.
Como a cura aconteceu?
Com a palavra tão desconcertante de Eliseu, Naamã intentou voltar à Síria. Ele tinha rios mais limpos que o Jordão para se banhar. Citou Arbana e Farpar ou Farfar. Arbana existe até hoje, mas Farfar, com as transformações do território do Levante, é apenas motivo de conjectura. Em algumas épocas do ano o Jordão é lamacento e corre rápido, enquanto derruba as margens. Aliás, Jordão (do hebraico, יַרְדֵּן, Yardên) significa o que desce!
Ele nasce no Monte Hermon[1] e desce em sua trajetória[2] até o Mar da Galileia[3].
Naamã já se dirigia à sua terra, quando sábios auxiliares ponderaram com ele que deveria mergulhar. Como se diz hoje: o não ele já tinha. Nada custava cumprir o que dissera o homem de Deus. Após sete mergulhos a lepra foi embora totalmente e a pele de Naamã ficou como a de um bebê. Naamã estava exultante. Apesar de sua relutância havia funcionado.
E o que aconteceu em seguida?
Ele retornou à casa de Eliseu. E exaltou o Deus Todo Poderoso ao qual o profeta servia, acima de todos os outros deuses que conhecia (2 Rs 5:15). Fez ainda a proposta de levar duas mulas carregadas da terra de Israel para fazer sacrifícios ao Senhor na Síria. Além de curado, alguns entendem que ele era, agora, um homem convertido.
Naamã ofereceu muitos presentes a Eliseu. Ele havia trazido nada menos que 345 kilos de prata, 72 kilos de ouro e dez mudas de roupa (2 Rs 5:5). Mas Eliseu recusou. Note que, desta vez, Naamã interpela o próprio profeta. Lembremos que Eliseu era um homem pobre, fazia parte da maioria oprimida de Israel. Com toda certeza viva no limite entre a pobreza e a miséria, mas não abriu mãos de seus princípios.
E o que Geazi fez em seguida?
Com a recusa de Eliseu, Naamã retornou com os presentes que levara. Porém, Geazi vendo a oportunidade de aproveitar uma parte do quinhão, saiu disfarçado e correu até a estrada onde seguia Naamã. Ao alcançar a comitiva foi logo fazendo um pedido inescrupuloso, usando o nome do profeta:
Meu senhor me mandou dizer: “Eis que agora mesmo vieram da região montanhosa de Efraim dois jovens que fazem parte do grupo dos discípulos dos profetas. Por favor, dê-lhes trinta e quatro quilos de prata e duas mudas de roupa.” (2 Rs 5:22) Uau! 34 kilos de prata e duas mudas de roupa? Naamã estava tão alegre que nem objetou e ainda deu o dobro da prata pedida (2 Rs 5:23).
Entretanto, Eliseu recebeu a revelação da parte de Deus que algo errado havia acontecido. Ele enquadra Geazi: “De onde você vem, Geazi?” (2 Rs 5:25). O servo é evasivo ao dizer que não havia ido a lugar algum. Eliseu retruca: “Você acha que eu não estava com você em espírito quando aquele homem voltou da sua carruagem, para encontrar-se com você? Será que esta era a ocasião para você aceitar prata e aceitar roupas, olivais e vinhas, ovelhas e bois, servos e servas?” (2 Rs 5:26).
Alguns acham que Geazi recebeu muito mais do que apenas prata e mudas de roupa. Mas a colocação pode ser mera figura de linguagem, uma hiperbóle. É, mais ou menos, quando alguém diz à namorada: “Eu te darei o mundo!” quando na verdade não pode dar mais que um terreno.
Por que Geazi foi amaldiçoado?
Eliseu lança uma maldição sobre Geazi: “a lepra de Naamã se pegará a você e à sua descendência para sempre” (2 Rs 5:27). A Bíblia diz que Geazi saiu da presença de Eliseu já leproso, castigado por simonia, que é vender as coisas de Deus. Lembrem que ele ainda usou o nome do profeta, sem seu conhecimento, para chancelar o pedido.
Porém, há algumas questões aqui. Geazi, cujo nome ocorre, diretamente, 15 vezes na Bíblia, entre 2 Rs 4:12 e 8:5 e duas, indiretamente (2 Rs 4:43; 2 Rs 6:15) ficou com os presentes de Naamã? Ou ficaram com o profeta? Não sabemos ao certo. Por outro lado, o encontramos em 2 Rs 8:4,5 dentro do palácio real. Para um leproso era algo impossível de acontecer a não ser na seguinte condição.
Se a lepra se generalizou e estava estabilizada (Lv 13:12,13), como parece a condição de Geazi em 2 Rs 5:27 ele podia conviver com os demais. Assim como Naamã não havia sido expulso do seu exército!
As lições da história de Naamã, Eliseu e Geazi para nós
a) Nunca queria utilizar das coisas de Deus para ganhos pessoais. Uma coisa é um salário digno (1 Tm 5:18) outra se locupletar de dons e habilidades dados por Deus para o crescimento do reino (1 Sm 2:12ss) e desviá-los em proveito próprio;
b) Tenha cuidado com os liderados para manterem a mesma conduta. Por vezes, o líder é probo e reto, mas se cerca de auxiliares nefastos ou de sua própria família, cujo intento é se aproveitar da noiva do Cordeiro;
c) Repudie, rapidamente, o pecado. Note que Eliseu não recebeu nenhum presente e, além disso, ainda despediu Naamã com alegria. Muitas vezes, o olhar para a vantagem tira a nossa retidão e faz pesar o coração. E isto falamos em todos os sentidos;
d) Puna exemplarmente os servos pecadores. Os outros verão e mudarão o comportamento! Não negocie com o pecado!
e) Se Deus lhe mandar mergulhar no Jordão não olhe para o estado das águas, sua limpidez ou profundidade. Simplesmente, mergulhe. É mergulhando que o milagre acontece!
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