A Chama Pentecostal chega à Terra da Luz
O ano de 2014 foi de muitas comemorações para a Assembleia de Deus no Ceará. Nessa data, os ministérios da AD local, festejaram os 100 anos de implantação da maior igreja pentecostal do Estado. Muitos eventos marcaram a efeméride, entre eles o lançamento do livro A Chama Pentecostal chega à Terra da Luz: Breve História das Assembleias de Deus no Estado do Ceará 1914-2014, do historiador Ruben Maciel Franklin.
Engana-se porém, quem imaginava que a obra do jovem doutorando em História Contemporânea pela Universidade Federal Fluminense seria um livro – como tantos outros – de caráter simplesmente comemorativo e ufanista sobre a AD local. Franklin, em uma intensa pesquisa, a qual durou 8 meses, tenta (segundo ele mesmo na introdução), “embora de forma acanhada, de explicar o processo de chegada, implantação, consolidação e expansão das ADs no território cearense”. Em suma, a obra contextualiza o movimento pentecostal no Ceará de forma abalizada.
Na opinião especializada do Historiador Maxwell Fajardo (Mestre em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo e Doutorando em História pela UNESP), o livro possui “uma visão crítica e competente que foge de uma abordagem que gira meramente em torno de datas e pessoas importantes” e “destaca-se pelo rigor metodológico desvinculado de preconceitos tantas vezes presentes no meio acadêmico quando o assunto é o estudo do pentecostalismo”. Como destaca também Gedeon Freire Alencar (Doutor em sociologia) no prefácio que a obra “comprova que competência acadêmica e integridade assembleiana, podem sim andar juntas”.
Uma visão crítica e competente da história |
Nos 3 primeiros capítulos, o autor destaca as origens do pentecostalismo no Brasil e no Ceará, sua implantação e consolidação. Sem se render aos “mitos fundantes” que cercam a história pentecostal, Franklin nota que certas condições eclesiásticas e culturais deram a “invasão dos pentecostista” vantagens em seu avanço pelo sertão.
…as estiagens e as migrações aceleraram o processo de interiorização da igreja; contudo, se não fosse o trabalho anterior da IPI (Igreja Presbiteriana Independente), ensaiando a construção de uma comunidade evangélica a partir dos laços de parentesco e compadrio pré-existentes, dificilmente as ADs teriam obtido êxito imediato.
Franklin não desconstrói os mitos e nem desvaloriza o trabalho dos pioneiros, porém os contextualiza em seu habitat e ethos sertanejo.
No capítulo 4 (1932 a 1960, os anos de “comunhão”), o escritor descreve o crescimento da AD, bem como seu processo de institucionalização. Nesse momento, a liderança do pastor José Teixeira Rêgo se consolida, e a formação de um ministério se faz necessário. Porém, junto com o crescimento e prosperidade da obra, tensões começaram a se formar no interior da igreja. O historiador identifica o antagonismo entre o pentecostalismo rural e o urbano, o qual tinha no pastor Teixeira Rêgo um ponto de equilíbrio. Sua morte representa o fim dos anos de “comunhão”.
No 5º capítulo (1960 a 1985, os anos da “política braba”), as consequências da morte do pastor José Teixeira se fazem sentir na traumática sucessão do mesmo na década de 1960, a qual chamou a atenção da imprensa cearense da época. De um lado estava o genro e deputado estadual Luiz Bezerra da Costa, do outro o pastor Emiliano Ferreira da Costa. Luiz representante do pentecostalismo urbano, e Emiliano símbolo do pentecostalismo rural numa queda de braço que extrapolou os limites do Ceará e foi parar na Convenção Nacional, e resultou em amargas lembranças.
Finalmente no capítulo 6, denominado “os anos das Convenções” (1985-2014), Franklin de maneira sucinta narra e analisa o processo de fragmentação da AD no Estado. A denominação cresce, mas se divide em ministérios concorrentes. Ministérios que se adaptam aos novos tempos, e a um “mercado religioso cearense” que “já havia sido alterado significativamente” nesse período.
Com boa bibliografia, e pesquisas em fontes primárias como o Mensageiro da Paz e o periódico O Estandarte da Igreja Presbiteriana Independente, o livro A Chama Pentecostal chega à Terra da Luz é um trabalho marcante por suas abordagens históricas e sociais. Excelente fonte de conhecimentos e reflexões sobre as ADs de um modo geral. O livro segundo seu autor “não será uma aventura fácil ou facilmente assimilado; por outro lado, não se mostrará um desafio hérculeo ou impossível. Apenas um desafio. Aceite-o”. Fica então o convite…
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