Prezados leitores, venho batendo nesta tecla há alguns anos. Releia! Eu disse: anos! Apesar de não ser político, sinto a necessidade de analisar tendências e estar atualizado com o que se passa ao nosso redor. Afinal, vivemos num mundo político e tudo que os políticos fazem influencia a Igreja. Sim, eu sei que Jesus vai voltar e antes a Igreja será perseguida, mas nas linhas abaixo você entenderá que muitos irmãos, ao que parece, estão querendo apressar essa perseguição! Se é que me entendem…
Por outro lado, somente gente ingênua repete como bom papagaio que a Igreja não analisa a política. Eles misturam com a Igreja fazendo política, que é outra coisa totalmente diferente e tem dado errado ao longo da História. Mas esse é outro debate, que, aliás, já fizemos várias vezes também. O que vai aqui não é pessoal. Não tem o interesse de atacar essa ou aquela pessoa, mas trazer a lume uma reflexão fria dos fatos.
Para falar das Assembleias de Deus pernambucana é preciso situar o leitor de fora do Estado (e até alguns de dentro que não sabem de algumas coisinhas). Há duas grandes Convenções: Recife e Abreu e Lima. As quais estão sediadas nestas duas cidades, mas atuam em todo o Estado. A AD Recife é bem maior, alardeia ter 1,5 milhões de membros e a AD Abreu e Lima, menor, diz ter 200 mil. O que totaliza 1,7 milhões de membros. Entretanto, outras forças se impuseram nos últimos anos, já falaremos delas mais adiante.
Ressalve-se que já questionamos esses números pois há, pelo menos, dois problemas com eles. O IBGE 2010 afirma que existem 802.047 assembleianos. Se de lá pra cá houvéssemos dobrado os números ainda assim não chegávamos aos 1,7 milhão. Outro problema é que, geralmente, esses números internos se baseiam na quantidade de membros inscritos nas secretarias de cada igreja. Ocorre que pelo menos 40% das pessoas que frequentam os templos são: visitantes, congregados, crianças e adolescentes em idade de não poderem se batizar, entre outros. E há os assembleianos nominais, aqueles que responderam ao censo, mas não aparecem nas congregações.
Hoje há outras forças atuando no meio assembleiano. Temos a AD Novas de Paz, dissidente da AD Abreu e Lima, sediada em Jaboatão dos Guararapes, na região metropolitana sul do Recife, a AD Seara, fruto de uma dissidência da AD Recife neste ano, que, segundo informes, já conta com 90 templos, espalhados pelo Estado, mas com forte concentração no interior e outras convenções menores em tamanho, mas com uma boa quantidade de membros. Partindo de 800.000 em números redondos, pelo menos 15% estariam nesses novos ministérios.
Voltando à AD Recife, lembremos que possuem rádios, TV, forte presença midiática e influência política. Além de propalados 1.000 templos dentro da capital. É muita coisa. A AD Abreu e Lima não fica pra traz no quesito influência midiática, evidentemente, proporcional ao seu tamanho, mas tem poucos templos na capital.
Pra jogar mais números nesta equação, Pernambuco tem hoje 9,3 milhões de habitantes, dos quais 1,55 milhão está concentrado em Recife. Lembre ainda que a cidade costuma ser mais flexível em termos de adesão evangélica do que o interior, onde o catolicismo ainda é muito forte. O Jornal do Commercio, edição de 30/06/2012, registrava o seguinte:
“Pernambuco é o Estado com a maior concentração de evangélicos do Nordeste, tanto em números absolutos quanto em termos proporcionais. Um em cada cinco pernambucanos se declara protestante, de acordo com o censo demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).”
E qual o problema?
Há outras questões em vários municípios do Estado. Mas o foco aqui é analisar a capital. Vejam só, com tanta presença na mídia, com tantos templos, tantos ministérios, tantos assembleianos, Recife é hoje uma cidade de esquerda. Os quatro candidatos mais votados a prefeito obtiveram a seguinte quantidade de votos:
Mesmo somando os votos de Mendonça e Patrícia (312.847 votos), ainda assim temos 456.276 votos para a esquerda na cidade, de um total de 798.791 votos válidos. Essa percepção aumenta quando sabemos que diversos irmãos se candidataram pelo PSB, que é, para todos os efeitos, um partido socialista que comunga dos princípios comuno-esquerdistas, basta ler seu estatuto.
Ninguém venha me dizer que os evangélicos não votaram em peso nas duas siglas acima. Mas as coisas podem piorar um pouco mais. Sermos evangélicos e esquerdistas já seria impressionante, o que dizer das gestões de esquerda no Estado e na cidade que protagonizaram alguns dos mais recentes escândalos de corrupção? Não há outra conclusão possível: além de esquerdistas os assembleianos pernambucanos fecham os olhos para a corrupção e estão dentro da pesquisa abaixo!
O mesmo se repetiu em Abreu e Lima, onde a candidata apoiada pelas lideranças assembleianas era de esquerda, do PDT, que se define como socialista em seu estatuto, mas não ganhou a eleição. Ela obteve 22.196 votos, 37,11% dos votos válidos. Outra parte dos votos foi para a candidata do prefeito, Pr. Marcos José, um assembleiano, ambos filiados ao PSB. Esta obteve 7.709 votos, 12,89% dos votos válidos. Ou seja, o voto evangélico assembleiano na cidade foi predominantemente esquerdista!
Note-se, para fechar essa tendência, que muitos candidatos de esquerda se elegeram vereadores em todas as cidades onde a Assembleia de Deus diz ser influente e muitos são até mesmo evangélicos. Em Recife a candidata a vereador mais votada é do PSOL! Donde concluirmos que onde o assembleiano não votou no prefeito esquerdista, votou no vereador. Outros foram além e votaram para ambos os cargos em candidatos de siglas de espectro progressista.
O que temos mais?
À margem dessa discussão temos alguns outros elementos importantes à destacar. Ao que tudo indica a força política da AD Recife encolheu. A irmã Aimee, do PSB, candidata tida como oficial, não se elegeu, ficando na 10ª suplência. Em 2016 ela obteve 14.338 votos, sendo a segunda mais votada na cidade. Agora, 3.763 (queda de 73,75%). Sem discutir a procedência, não sabemos se as várias denúncias internas ventiladas ao quatro ventos nas redes sociais, influíram negativamente nisso.
Já Fred Ferreira, do PSC, que teve 14.277 em 2016, também encolheu, foi a 8.407 (queda de 41,12%), mas se elegeu. Ele faz parte do capital político do patriarca, Manoel Ferreira, que foi indicado e eleito como deputado estadual pela primeira vez em 1986, pela AD Recife e depois rompeu politicamente, fazendo carreira solo bem sucedida. Sendo, aliás, reeleito no pleito anterior para as proporcionais. Ele tem um filho prefeito de Jaboatão dos Guararapes, Anderson, que foi reeleito, e um outro, André, deputado federal.
O pastor Tércio já tinha mostrado força política na eleição anterior quando garantiu a vaga da filha, Clarissa Tércio, como deputada estadual. Agora emplacou o genro, Júnior, como terceiro colocado, com 12.207 votos. Quem conhece o Recife, e sabe do estranhamento entre as várias convenções assembleianas, entende que é muita coisa para um estreante de uma convenção pequena em relação à principal. Notemos, por exemplo, que a filha obteve 17.122 votos na cidade, quando se candidatou a deputada em 2018. Reter esse capital político é uma façanha, mesmo quando os demais indicados nas cidades do Estado não foram bem sucedidos.
Outra liderança evangélica que encolheu foi Michelle Collins, do PP, de primeira colocada em 2016, com 15.357 votos, nesta eleição obteve 6.823 (queda de 55,57%).
Vamos ficando por aqui. Ao que tudo indica é preciso voltar à prancheta. O homem médio assembleiano (aquele que é a média moral dos membros) está com graves problemas. Recém saído do bolsonarismo, uma tendência claramente à direita, naufragou em menos de dois anos e guinou à esquerda.
Obrigado por sua leitura.