A CGADB que temos x A CGADB que precisamos!

Nesta nova eleição para a diretoria da entidade o que precisamos? Nossa CGADB faz hoje jus ao tamanho da denominação? O que precisamos fazer para enfrentar os desafios de nosso tempo? Reconhecer nossos gaps? Preencher os espaços que já existem? Oxigenar e democratizar a administração? O que a CGADB pode fazer para aprimorar a governança das administrações regionais?

Prezados 40 leitores, voltamos a um tema caro ao blog e vamos a mais um texto looongo de sábado. Nasci na Assembleia de Deus e nela estou há 46 anos. Creio que ninguém que me conheça pessoalmente pode me acusar de omissão, covardia ou preguiça. Participei de todos os trabalhos compatíveis com minha idade e ocupei todos os espaços oportunos. Círculo de Oração Infantil ajudando minha mãe, que era dirigente, em Sítio Lira quando criança. Dos 14 anos em diante, membro ativo do coral em Vila Nova. Fiz cultos matutinos transmitidos às 06:00h (no tempo que isso era comum) em Bonfim I, carreguei cornetas e máquinas para cultos relâmpagos.

Ajudei inúmeras dirigentes de Círculos de Oração, participando assiduamente (muitas vezes com caravanas de até 30 pessoas) por três anos consecutivos, até começar a trabalhar secularmente aos 17. Em Cruz II, fui secretário do trabalho de recuperação de desviados e professor de EBD a partir desta idade, depois dirigente e vice-superintendente da Convenção Abreu e  Lima. Fundei a União de Jovens da AD em Cruz II, anos depois fui secretário geral daquele orgão em todo o Estado. Ao longo desses anos, diácono, presbítero, evangelista e por fim, pastor, há dois anos.

Portanto, tenho uma trajetória, não caí de paraquedas. Vi muitos filmes, conheci de perto e de longe muitas histórias. Algumas delas enviadas a este blog, que é um espaço criado há dez anos. Creio que esteja habilitado a falar sobre o assunto em pauta. Ressaltamos aos nobres leitores que nada temos contra a Assembleia de Deus. Nossas críticas são propositivas. Sugiro aos mais melindrados que parem por aqui e procurem algum outro blog de autoajuda. Não é meu forte… Aos demais, vamos lá!?

O que é a CGADB hoje?

Formalmente, a CGADB é uma entidade que congrega as Assembleias de Deus de todo o Brasil. Aqui começa o primeiro problema: definir quais assembleias? Há muitas. Qualquer um coloca uma placa com um dístico e acrescenta alguma frase de efeito e pronto! Somente de nossa Convenção (Abreu e Lima/PE) saíram nos últimos anos mais de 15 novos ministérios! Mas, voltemos… O orgão congrega aquelas que passam no crivo da entidade. É uma associação política, representativa, institucional.

Porém, nela só mandam os caciques, os chefes, os presidentes. Eles definem e delimitam sua atuação nos Estados. Ainda que tais limites sejam tênues. Para termos ideia, um grupo de igrejas se emancipou de uma Convenção pernambucana e foi amparada por uma congenere cearense, contrariando o próprio estatuto em seu artigo 9º. Outros Estados mantém igrejas por aqui. Quem entende? É, meus 40 leitores, a CGADB não existe para ser compreendida. A entidade não representa os demais ministros, não os defende, nem se envolve com suas demandas.

Tomemos, para título de exemplo, o salário dos obreiros. Não há nenhum padrão lógico para seu recebimento. Um obreiro do Sudeste em plena área central da cidade simplesmente não recebe nada. Outro do Nordeste ganha 15 ou 20 mil reais. Um obreiro de área, com responsabilidade sobre 15 igrejas ganha, digamos, R$ 1.000,00, outro com cinco, ganha R$ 4.000,00. Muitas vezes outro, sem igreja nenhuma, ganha 6 ou 7 mil reais. É o samba do crioulo doido assembleiano. Quem define? Qual o critério? A boa vontade do presidente!

Quer outro exemplo? Eu sou filiado à CGADB. Se me mudar, dentro do meu próprio Estado, vou passar por um, digamos, estágio probatório. Minha humildade e fidelidade será testada. Este teste pode durar um, dois, cinco, sete anos, à mercê de quem me recebe. E se for para outro Estado aí nem se fala. Para fins de comparação, na Igreja O Brasil para Cristo, um pastor com carteira e carta de recomendação é recebido em qualquer igreja da denominação automaticamente. No mundo todo! Ele pode não ter espaço, nem trabalho definido de imediato, mas tem reconhecimento.

Longe dos próprios caciques a CGADB toma algumas decisões à revelia.  É o caso das atuações moderninhas da CPAD. Por exemplo, neste trimestre (3º de 2016) uma lição de jovens enfureceu diversos deles. Ao que parece estava mais para cartilha do MEC… No CPADNews, site oficial da editora oficial (redundância intencional), somente doze iluminados, maioria do Sul/Sudeste, podem postar suas reflexões. Ora, ora, o Brasil é tão pequeno, não é? Assim, enquanto a entidade propala seus milhões de membros, restringe a um seleto grupo tais representações.

A entidade sobrevive de um repasse percentual da CPAD e da anuidade de seus membros. Mas os tais não tem nenhuma influência, senão quando há alguma repercussão. É o caso do voto descentralizado proposto por este escriba e o pastor Geremias do Couto, por ocasião da última eleição.

Explico: Eu trabalho, sou extremamente ocupado, como tantos outros pastores que não dependem financeiramente da igreja à qual pertencem, e não posso passear pelo Brasil nas eleições da CGADB. Então a cúpula decide promover uma eleição em São Paulo e todo mundo tem que se dirigir até lá para poder eleger os diversos cargos.

O que propusemos no longínquo 2012? Que cada Convenção realizasse a eleição, servindo de zona eleitoral. Os votos seriam remetidos em urnas lacradas para a sede da entidade, que se encarregaria de contá-los e publicar o resultado. Ou cada Convenção faria a contagem dos seus votos e enviaria o resultado. Simples assim! Paciência se não podemos confiar a lisura de um processo assim às Convenção Estaduais.

À época diversos caciques torceram o nariz para a proposta. Que agora, pasmem!, é propalada como virtude do atual presidente. Nas páginas do Mensageiro da Paz ele é o homem que imprime modernidade ao processo eleitoral promovendo a votação eletrônica! Isso depois de quase trinta anos à frente do mesmo, sem descentralizar as eleições.

A CGADB não apita em nenhum campo brasileiro. É puro endomarketing. Não consegue impor seu estatuto aos convencionais. Não tem ingerência sobre a administração das convenções. Não consegue restringir o uso da marca. Não se impõe contra decisões arbitrárias dos presidentes estaduais. Não consegue unir a denominação, que vive às turras em seus feudos. Há presidentes que mal se falam. Não inibe bizarrices doutrinárias (que se veja o GMUH) e teológicas. Isto até ocorre nas páginas do Mensageiro da Paz, mas na prática… O único destaque é político, mais para politicagem do que para a arte. Planeja/planejou fundar um partido que a represente. E indica ou elege vereadores, deputados e senadores. Sempre vinculados familiarmente aos presidentes. Ou a eles ligados por laços de dependência espiritual.

Mas o problema maior é uma entidade deste porte existir para pessoas. Não todas, mas algumas. O presidente nacional e seus representantes estaduais são os maiores beneficiados e beneficiários. Pouco ou nada do que se gesta ali visa a Igreja ou a denominação. A maioria das decisões visam apenas preservar poder e influência. Até hoje nebulosas denúncias nunca foram satisfatoriamente esclarecidas. Seja por falta de interesse ou por puro pragmatismo e autopreservação nenhum presidente questiona os desvios. É que a maior virtude da entidade é não interferir, nem questionar.

O sintoma mais gritante do total anacronismo organizacional da CGADB é a ausência de postulantes ao cargo de presidente. Provavelmente nesta eleição, assim como nas demais, teremos apenas dois concorrentes: Pr. José Wellington Bezerra Júnior e Pr. Samuel Câmara. Muitos querem cuidar de seus próprios roçados. Outros sabem que terão pouca força política no trono. A maioria não quer se indispor com o atual presidente. É que ele já indicou há quase dois anos (veja que homem moderno!?) seu próprio filho! Por fim, é uma campanha cara e ninguém tem tantos milhões à disposição. Neste contexto, inclusive, profetizo a eleição do filho. Para continuar a marcha anacrônica do pai!

Não fora por iniciativas isoladas, a CGADB não teria estratégias de longo prazo. Ela até capitaliza estas iniciativas, quando deveria protagonizá-las. Boa parte do problema é uma administração presa aos anos iniciais da denominação. Não é mais possível esse tipo de abstração.

Por qualquer ângulo que olhemos estamos atrasados. Educação teológica de obreiros e leigos? Não há nenhum projeto nacional da entidade. Os currículos são atabalhoados. Há faculdades teológicas que ainda não descobriram as facilidades do EAD. Um claro distanciamento qualitativo entre o Sul/Sudeste e o Norte/Nordeste do País. E pouco ou nada se fez a respeito. Pelo contrário, temos lições da CPAD com termos gregos e hebraicos, sem correspondência fonética, para professores que mal sabem português! Por falar nisso, o que dizer de faculdades que mantem na grade a disciplina Exegese, sem ensinar grego e hebraico?

Nenhum projeto de alfabetização nacional, mesmo sabendo que há tantos membros sem instrução formal entre nós. Nenhuma qualificação em gestão para obreiros que tomam conta de congregações. Nenhuma orientação jurídica para os mesmos. Nenhum portal de cursos extracurriculares para os interessados.

Evangelização? A Comissão de Planos e Estratégias de Evangelismo utiliza dados demográficos de 1993! Só 23 anos atrás…

Missões? Que projeto prático a CGADB implementou no Nordeste? No interior do País? Na Amazônia? A qual deles dá suporte financeiro e logístico? Missionários há enviados ao Exterior, cujas igrejas cortaram suporte financeiro, por exemplo! O que a entidade fez a respeito.

CPAD?  Onde está o espaço do escritor assembleiano brasileiro? Você pega a seção de propaganda de uma lição ou do Mensageiro da Paz e 60 ou 70% dos livros foram escritos por americanos!

Mídia de massa? Não há um reles vídeo produzido pela CGADB enfatizando uma data especial dos evangélicos, como o Natal ou a Páscoa. E os que há não alcançam nem 100 mil visualizações. Os mórmons produziram um sobre a Páscoa, cuja versão em português, ultrapassou 4 milhões de visualizações. A CGADB não está presente nas redes sociais. Sua página é vaga e a maioria do conteúdo se refere às eleições. Aliás, este parece o assunto mais importante.

Por falar em mídia a CGADB lançou uma operadora de celular, num tempo que os players do mercado estão investindo em conteúdo. Mesmo sendo uma operadora virtual é preciso investir em infraestrutura para manter o funcionamento. Este capital seria muito melhor aplicado no desenvolvimento de produtos e serviços de conteúdo num aplicativo pago, por exemplo. Resultado: não conheço ninguém com um chip AD no Brasil!

A CGADB que queremos!

Querer aqui é força de expressão. Na verdade, precisamos! E com urgência. O jogo político representativo mudou drasticamente. Forças as mais diversas se organizam e reorganizam, enquanto a Assembleia de Deus ficou à mercê da monotonia. A denominação é refém de decisões personalistas, verticalizadas e hierarquizadas.

Em diversos lugares os membros não tem vez, nem voz. Embora deles se cobre empenho, dedicação e ofertas. Muitas ofertas e dízimos! Na maioria das Convenções as aplicações do dinheiro alheio obtêm nota zero em transparência e razoabilidade. Aliás, por falar em dinheiro a administração busca a maior capilaridade possível. Contraditoriamente, enquanto encastelamos a gestão, fazemos o downsizing das responsabilidades.

O leitor arguto já compreendeu nossos gaps (a distância entre o que somos e o que precisamos ser) a partir do esboçado acima. O que a CGADB precisa ser? Tudo que não foi até agora e muito mais para fazer frente aos desafios de nosso tempo. A entidade representativa que queremos certamente não é esta que temos!

Leia mais:

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Sobre o autor | Website

Meu nome é Daladier Lima dos Santos, nasci em 27/04/1970. Sou pastor assembleiano da AD Seara/PE. Profissionalmente, trabalho com Tecnologia da Informação, desde 1991. Sou casado com Eúde e tenho duas filhas, Ellen e Nicolly.

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6 Comentários

  1. Edinaldo disse:

    Parabéns pelo artigo pastor! A mais pura verdade, tudo que se apresenta nas páginas da história da CGADB, traduz o total descaso para com o chamado que Deus designou para àqueles que aspiram ao episcopado. Outrossim, como obreiro que sou, percebo que isso até desanima quem sempre sonhou fazer parte de um grupo representativo e amoroso para com as demais pessoas, tanto da igreja como fora dela.

  2. PR. Josafá S. Brandão disse:

    Parabenizo o amado colega, pela excelente exposição. É isso mesmo que queremos.
    Acredito verdadeiramente que precisamos compor uma terçeira chapa que contemple todos esses sonhos e projetos, pois os candidatos até agora apresentados jamais farão esses sonhos se tornarem realidades. Tenho muito medo e tristeza se nossa Assembleia de Deus no Brasil, cair nas mãos do PR. Samuel Câmara. Só quem conhece e vive nossa realidade aqui no Pará, é capaz de chorar conosco a vergonhosa perda de identidade que sofremos. Que Deus levante outros homens, que preserve a sã doutrina e pense mais nas almas e menos no dinheiro.

  3. Daladier Lima disse:

    Prezado Pr Josafá,

    Também não acredito nas propostas do Pr. Samuel. Triste como chegamos a este ponto.

    Abração!

  4. Abraão Lopes Sampaio disse:

    Também parabenizo o nobre pastor pela coragem e pelas intrépida ousadia. Precisamos de homens destemidos e determinados em fazer mudanças. O regime verticalizado precisa acabar. Em um país onde se falam sobre novas políticas, a nossa igreja continua arcaica sob a égide ditatorial de uma clã. Qualquer um que não falar a mesma língua é exacrado. Vamos nos unir e proclamar o fim da verticalização.

  5. Eduardo Lima disse:

    Um, está a 30 anos no poder e quer dar continuidade através do filho. Outro, Samuel Câmara, se lograr êxito nessa eleição, irá começar mais um papado, pois por onde passa faz isso, que o diga Amazonas ( onde moro e cuja família Câmara está há décadas no poder) e Pará. Triste perspectiva assembleísma. Oremos!

  6. Miqueas Cipriano disse:

    Artigo esclarecedor. Parabéns meu Pastor!